27 de março de 2014

Resenha: Full Metal Alchemist



Por Escritora Otaku


Antes de falar do anime, eis uns dados do meu lado fangirl: acompanhar boa parte do mangá e tomar muita raiva da editora, fosse na primeira publicação, seja no seu relançamento (apenas o primeiro volume e desistência de comprar qualquer mangá da editora via banca); de um álbum obscuro de figurinhas, que nem sei se alguém lembra; dos Guias Completos e chiar por após nem ter dado tanto tempo o relançarem só por terem mudado o logotipo do título (bem sem graça por sinal); procurar como condenada pelos episódios completos dublados e tomar vergonha na cara de ver o filme que dá fim a série. Fora ter todas as músicas de aberturas e encerramentos desta e de sua segunda versão, sendo minhas favoritas em disparada a primeira abertura de ambas. Inclui alguns wallpapers e defender o anime com unhas e dentes. Diria que somente “Detective Conan” consegue me botar num patamar parecido, acreditem...


O conheci numa “Ultra Jovem” e sim, a mesma história com Conan, claro que com algumas diferenças. Foi apenas quando houve a exibição da série no TV Kids na RedeTV que pude ter um pouco de contato, afinal, na época estava fazendo Letras e amei o que deu pra ver. Uns anos depois, tive contato com o mangá que originou e conheci mais de sua autora - claro que passei a rodo na net para poder ver a versão dublada, uma das melhores brasileiras que tive contato e não me desapontou. Mesmo tendo passado tanto tempo, meu carinho e admiração por esta primeira versão não mudou nada. Chateio por ver o pessoal “endeusando” “Full Metal Alchemist: Bortherhood”, pois ele não seria um terço do que foi se não fosse sua primeira versão; do mangá ter inspirado nele e segue adiante. Por isso quero expressar um pouco do que representa “Full Metal Alchemist” e seu impacto nesta resenha.

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Alternativo: Hagane no Rekinjutsushi (em japonês)
Ano: 2003
Diretor: Seiji Mizushina ("Natsuiro Kiseki", "Shaman King", "Slayers Next")
Estúdio: BONES
Episódios: 51
Gênero: Aventura / Comédia / Drama
De onde saiu: Mangá, 27 volumes, finalizado (2001-2010).


“Nada pode ser obtido sem uma espécie de sacrifício, é preciso oferecer alguma coisa em troca de valor equivalente: este é o princípio básico da alquimia, a lei da troca equivalente. Naquela época, acreditávamos que esta lei fosse absoluta...” (frase dita por Alphonse Elric, na versão dublada da série)

E é assim que começa uma das maiores surpresas da animação japonesa: quando muitos achavam que os animes tinham perdido seu brilho, eis que “Full Metal Alchemist” aparece e muda toda uma concepção dos que conhecem as animações japonesas em geral.

Como sabem, a cada ano são produzidas várias animações no Japão: umas se tornam populares, outras passam batido e outras se tornam clássicos. É difícil definir qual anime conseguirá o feito de ser conhecido pelo público ou não, pois há séries extremamente conhecidas pelos japoneses que são completas desconhecidas do público ocidental, e outras que ultrapassam estas barreiras e se tornam populares ou clássicas. Um conceito que depende do lugar e do seu público-alvo e nem todas às vezes, o que os japoneses gostam cai no gosto do público brasileiro, por exemplo.

“Full Metal Alchemist” começou em um mangá, publicado pela Shounen Gangan, uma revista de periodicidade mensal e que tenta trazer um conteúdo diferenciado dos shounens que estamos acostumados a acompanhar, onde foi um dos mangás de maior destaque da revista durante o período que foi publicado (2001 a 2010, totalizando 27 volumes encadernados) com direito a duas adaptações animadas – a que esta resenha vai abordar e “Full Metal Alchemist: Brotherhood”, lançado em 2009 – fora OVAs e um filme, “The Conqueror of Shamballa” (O Conquistador de Shamballa, em português), lançado em 2005 e que finaliza a primeira adaptação animada.

No Brasil, tanto o mangá quanto as duas versões animadas foram lançadas: o mangá foi publicado pela JBC em dois formatos, sendo o primeiro em meio tanko com 54 volumes entre 2007 e 2011, e depois no formato tankobon em 2016. Ainda trouxeram os "Guias Completos" em três volumes e, igual a obra original, eles também foram relançados (clique aqui para ver um texto sobre estes guias no blog). Quanto as animações, ambas tiveram versão dublada em São Paulo, onde a maioria dos animes são tratados no Brasil.

A mente por trás da série é Hiromu Arakawa, uma mangaká que nunca esperou que sua história chamasse a atenção dos japoneses e do público ocidental. Quanto menos esperou a série foi logo adaptada em anime e o reconhecimento mostrou que criar uma boa história ainda é possível, em uma época que criar algo novo não tem tanto reconhecimento quanto pegar um produto pronto ou uma ideia já consagrada. Geralmente a mangaká se apresenta em formato de uma simpática vaquinha e, atualmente, está fazendo o mangá “Silver Spoon” – “Gin no Saji” no original – publicado pela Shounen Sunday, e tem sido um dos destaques da revista.

E... o que tem “Full Metal Alchemist” de tão extraordinário que conseguiu se destacar como mangá e como anime? Uma pergunta que muitos fazem quando uma obra se sobressai mais do que o autor imagina, pois os fatores podem transformar uma série em algo bom ou em algo ruim. Depende como é visto pelo público e pela crítica, mas, vamos ver como foi...

A primeira ideia vem da forma que a série foi elaborada, que seguiu uma concepção diferente dos shounens tradicionais: enquanto no shounen vemos o desenvolvimento e o amadurecimento dos personagens por meio de lutas, desafios e aventuras; na obra de Arakawa, isto é irrelevante, pois não é importante os personagens evoluírem fisicamente em suas habilidades e sim, em suas personalidades e como encaram as situações. Claro que existem as batalhas e elas são bem elaboradas, só que isto não é o enfoque da história, dando mais destaque ao desenvolvimento psicológico dos personagens.

A segunda ideia vem a respeito dos personagens: a autora conseguiu trazer o melhor de suas personalidades e pô-las nos momentos certos. Quantas vezes nos irritamos da maneira que os autores abusam de alguns personagens e desprezam outros, os deixando a ver navios na história. E são os personagens que fazem de “Full Metal Alchemist” ser o que é para seu público.

E a terceira ideia – até tem mais; no entanto, ficaremos nas mais relevantes – são as mudanças de atmosfera, ou seja, das cenas a serem apresentadas: há momentos cômicos, momentos dramáticos, revelações e suas sequelas. Estas cenas são postas de uma forma que não tem como reclamar se faltou emoção ou um pouco mais de comicidade, dando uma identidade própria para a série.

O enredo de “Full Metal Alchemist” é a jornada dos Irmãos Elric, Edward Elric – o mais velho - e Alphonse Elric - o mais novo - em busca de uma forma de recuperarem seus corpos; quando eram novos, tentaram reviver a mãe deles e os resultados foram desastrosos: Edward perdeu a perna esquerda e o braço direito, enquanto Alphonse perdeu todo o corpo. Ambos tinham feito uma transmutação humana, ato proibido para os que praticam alquimia e pagaram com seus corpos por terem quebrado um tabu. Depois de um tempo, os dois seguem em uma jornada: Edward passa a usar próteses no lugar dos membros perdidos e Alphonse tem sua alma fixada em uma armadura. A história ocorre já no presente, com ambos os irmãos famosos por suas façanhas e pelo fato de Edward ter se tornado um alquimista federal com apenas 12 anos de idade, sendo conhecido como “Alquimista de Aço”. E daí, o enredo se desenvolve mostrando o passado e o presente deles e de outros personagens, pela busca de recuperarem os corpos que perderam.

Dizer mais sobre a história é simplesmente inaceitável, pois diferente de muitas animações japonesas, o forte da série são o seu enredo e os personagens, por isso a sinopse bem sucinta e direta, sem rodeios. Esta jornada revela os dois lados do uso da alquimia: tanto para ajudar quanto para atrapalhar, pois os que se tornam alquimistas federais são vistos como “Cães do Exército” por terem abdicado suas habilidades alquímicas para o exército e serem usados como armas humanas. O desprezo e até o ódio são bem ressaltados ao longo da animação e mudar esta fisionomia torna-se uma tarefa demasiadamente trabalhosa e arriscada, dependendo das circunstâncias apresentadas.


O elenco de personagens mostrados na animação manteve a personalidade apresentada no mangá, tendo algumas alterações, por causa da história original não ter sido concluída na época de produção do anime. E a animação segue o mangá até determinada etapa, pois a partir de certo ponto em diante, a adaptação caminha para um rumo totalmente diferente do original, mantendo somente o argumento inicial e os personagens que haviam sido apresentados primeiro - fora que alguns acontecimentos sucederam no mesmo período em que o mangá estava sendo publicado ou se passavam antes ou depois da história ocorrida. Pra ter uma noção, algumas histórias que são vistas como fillers no anime foram adaptadas como capítulos extras do mangá e alguns fatos foram revelados pela mangaká, pois o material original era escasso para a produção ter o que adaptar. Quem tiver lido o mangá vai entender a respeito, pois a própria mangaká revelou detalhes da produção da animação e isso influenciou na forma de contar a história.

Em termos técnicos, o anime teve um excelente tratamento: design, traço firme e dublagem bem colocada, tornando a série uma das mais importantes para o estúdio que o produziu. Todo o trabalho dado na animação revela o quanto tiveram cuidado pra apresentar a trama ao espectador e o resultado final foi satisfatório. A animação é vista como um dos melhores projetos da BONES, dando mais notoriedade para o estúdio e deu a possibilidade de trabalhar na versão definitiva da série, anos depois. A dublagem da animação também é bem colocada, destacando alguns dubladores, sendo que as vozes dos irmãos Elric foram feitos por mulheres (Kugimiya Rie e Romi Paku), já que é comum no Japão dubladoras emprestarem suas vozes em papéis masculinos.

No Brasil, o elenco de vozes foi constituído de dubladores paulistanos, que durante a animação conseguiram dar vida aos seus personagens e têm seus destaques: as vozes dos protagonistas foram feitas por dois dubladores bem conhecidos no meio da dublagem, no papel de Edward foi escalado Marcelo Campos, que já dublou personagens em vários animes, como “Cavaleiros do Zodiaco”, “Shurato” e “Yu-gi-oh!”; no caso do Alphonse foi escalado Rodrigo Andreatto, que já trabalhou em animes como “Shaman King”, “Pokémon” e “Super Campeões”. Outras vozes são bastante conhecidas e mostraram na interpretação o estilo de cada um dos personagens, sem os descaracterizar.

Na trilha sonora, o anime contou com quatro temas de abertura e quatro temas de encerramento ao longo dos episódios. As aberturas apresentadas foram: “Melissa”, cantada pela banda Porno Graffite; “Ready Steady Go”, cantada pela banda L’Arc~em~Ciel; “Undo”, do grupo COOL JOKER, e “Rewrite”, tocada pela banda Asian Kung-Fu Generation. E os encerramentos foram: “KasenaiTsumi”, da cantora Nana Kitade; “Tobira no Mukou E”, cantada pela banda YeLLOW Generation; “Motherland”, da cantora Crystal Key, e “I Will”, cantada por Sowelu. Todas estas músicas foram bem colocadas e tornam a experiência de acompanhar a animação mais emocionante, mostrando a atenção que o estúdio teve em dar um toque diferenciado na produção do anime. Dá pra reparar que bandas masculinas foram escolhidas pra tocar as aberturas e que as mulheres dominaram nos encerramentos, transmitindo o tom e personalidade em cada uma das músicas.


E estes atributos deram para “Full Metal Alchemist” o status que adquiriu dentro e fora do Japão: uma série que não passa despercebida e se destaca das várias animações japonesas que surgem a cada ano. Pra quem quiser acompanhar, duas dicas: nada de comparações com “Full Metal Alchemist: Brotherhood”, pois estraga e muito a vontade de assistir, e tentem descobrir o que tem a animação de tão especial pra oferecer. A experiência é única pra quem conferiu ou quer conhecer uma animação diferente das habituais...



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Um comentário:

  1. Excelente texto Escritora. Parabéns! Até me inspirou a refazer a minha crítica opinativa acerca do anime e recriá-la/reciclá-la. xD
    Bem, acho que tudo que você falou se resume bem no porquê de eu colocar FMA como meu anime Top1 tecnicamente falando, junto com o próprio FMA Brotherhood. Uma frase que deixa seu post ainda mais interessante é a 1ª dica: "nada de comparações com “Full Metal Alchemist: Brotherhood”, pois estraga e muito a vontade de assistir". Porque as pessoas têm a péssima mania de compararem com FMA BH porque este seguiu mais fielmente o mangá, têm a péssima mania de não assistirem ambas as produções de maneira separadas, têm uma absurda preguiça de acompanhar as duas séries e reclamam da animação de 10 anos atrás..... pobres coitados que não sabem o valor que FMA tem para a própria série que veio 5 anos depois. Inclusive de modo incisivo quanto ao roteiro, que é FMA BH é bem enxugado nos 10/12 primeiros episódios...
    Para mim, que já havia assistido FMA alguns anos antes, FMA Brotherhood se tornou uma experiência ainda melhor quando eu o assisti. Por alguns outros fatores também, mas a experiência de ter visto a primeira série foi decisiva.

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