4 de janeiro de 2015

Especial: Analisando o Ranking de Audiência da TV Japonesa: Parte 01 - Os animes infinitamente infinitos




Por Escritora Otaku


Saudações para os que acompanham o Animecote seja nas matérias, resenhas e podcasts. Isto deve sair um pouquinho da típica rotina e quem sabe, esclarecerá algumas dúvidas e curiosidades sobre o famoso e deveras “polêmico” ranking da TV japonesa - ou já não se perguntou quais são as animações que os japoneses assistem toda semana e seus desempenhos?
Por isso, para que sejam feitas as devidas perguntas e as respostas possíveis sobre o assunto é que haverão duas matérias a respeito, que servirão para entender por que o que assistimos não é o mesmo para os japoneses. Isto não é uma destas pesquisas que sites costumam fazer e sim, o que torna certas séries mais aceitas que outras e suas características mais marcantes.

Na primeira parte, cinco animes que parecem não ser nada aos nossos olhares, mas, quando analisados com mais cuidado, vemos um pouco da terra de onde saem as animações que tanto gostamos de assistir.


Analisando o Ranking de Audiência da TV Japonesa: Parte 01
Os animes infinitamente infinitos

As famosas listas revelam o gosto de cada um: temos as listas dos mais vendidos – livros, games, quadrinhos, etc – as listas de preferência de certa parcela do público ou da crítica e por aí vai. Então, chegamos a uma das mais polêmicas: a audiência de TV, da qual define quais programas o telespectador assiste mais e quais estão precisando de reformas ou cancelamentos. No Brasil, a audiência define muito a programação dos chamados canais abertos e sim, temos também as dos canais pagos. Explicações dadas, vamos ao assunto propriamente dito: quais animes têm dado audiência e razões por trás de seu sucesso. Por que certas séries têm mais frequência e o principal, o que elas possuem de tão extraordinárias? Ou, não chegou a se perguntar? Caso queiram ver, o site ANMTV traz justamente este ranking e é bom saber que aquelas séries não estão lá à toa. Como tem muita informação, a abordagem será dada da seguinte forma: na primeira parte abordarei os cinco animes vistos como os infinitos, porque não há previsão de quando terminarão e que estão carimbados; na parte dois, séries mais conhecidas e que diferentes dos infinitos, tem previsão de terminar um dia. Seguiremos uma ordem, que tirando um deles, os demais concorrem entre eles mesmos.

Prontos para saber quais animes infinitos têm garantia neste ranking? Preparados para conhecer e saber o que os torna constantes, mesmo com o mercado de animação japonesa a todo vapor?

As séries apresentadas terão uma ficha técnica, resumo, se estão sendo legendadas ou dubladas, equivalentes ocidentais e seu carrasco. O último é o que faz elas não subirem mais do que já conseguem, seja uma série concorrente ou algo. E, para os que curtem um certo “Chapéu de palha”, melhor esperar pela parte dois da matéria, pois será citada com mais detalhes.

Chega de enrolações e de fillers: vamos ao que interessa e ponto final...



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Sazae-san
Ano de produção: 1969
Estúdio: Eiken
Episódios: Mais de 6.000, em exibição
Canal que exibe: Fuji TV
A série veio ocidentalmente: Apenas em poucos países. E seria complicado pela quantidade absurda de episódios... Quem sabe os especiais e filmes.
Equivalente ocidental: “Os Flintstones”
Principal carrasco: Quando não é exibido

Pra começar, a série mais assistida do Japão, aquela que está no primeiro lugar do ranking de TV de lá e a animação mais longa em exibição do mundo. Bem, isto é tudo que sabemos sobre “Sazae-san”.

A história é bem simples: a série aborda sobre Sazae e sua família, tipicamente japonesa, e a personagem-título representa a imagem feminina adquirida quando as mulheres passaram a ter mais autonomia. Vindo de um mangá já finalizado, a série veio pra revelar as mudanças que as mulheres japonesas tiveram após a 2ª Guerra Mundial. Mesmo a animação sendo antiquada – em termos de desenho e da época – é incrível como se mantém firme e forte na constante mudança da forma que são feitas as animações japonesas.

Vale lembrar que com o advento da internet e de outros meios de entretenimento, a série não tem mais a mesma audiência de anos atrás. Mesmo assim, está lá e apenas não aparece quando não é exibida.



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Chibi Maruko-chan
Ano de produção: 1990
Estúdio: Nippon Animation
Episódios: Mais de 900, em exibição
Canal que exibe: Fuji TV
A série veio ocidentalmente: Sim, no entanto, só para poucos países. Caso similar a “Sazae-san”.
Equivalente ocidental: “Dennis, o Pimentinha”
Principal carrasco: “Sazae-san” e outros animes do ranking de TV

Abaixo da toda poderosa “Sazae-san” e que tem lugar bem marcado no ranking, está “Chibi Maruko-chan” e sim, mais uma vez, protagonista feminina. Garotas podem comemorar, porque não é só de personagens masculinos que se vivem os animes.

Na série, Maruko é uma garotinha espoleta e que não gosta de estudar, que vive várias aventuras com sua família e amigos. A personagem representa o estilo mais comum de criança: alguém que não aparenta nada de especial à primeira vista, mas que, conforme o tempo passa, se revela uma garota cheia de sonhos e de imaginação. Portanto, a série revela um lado mais rotineiro e sem grandes pretensões, o que parece tedioso, mas, quem nunca quis ter uma infância mais simples e sem as responsabilidades dos nossos tempos?

Baseada em um mangá, já finalizado, a história lembra a do próprio mangaká, que tinha o dia-a-dia similar à de sua personagem. Nada incomum, pois existem mangás que mostram esta faceta para o público e são simples quando olhamos, mas no entanto, quando deixamos os preconceitos de lado, podem nos surpreender e trazer uma nova cara para quem a criou. E sim, há comparações entre Maruko e Sazae, por ambos retratarem o cotidiano de suas personagens.


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Doraemon
Ano de produção: 1979
Estúdio: Shin-Ei Animation
Episódios: Mais de 2.000, em exibição
Canal que exibe: TV Asahi
A série veio ocidentalmente: Sim, tendo alguns episódios já exibidos no Brasil e alguns especiais/filmes legendados
Equivalente ocidental: Mickey Mouse
Principal carrasco: “Crayon Shin-chan”

Saindo das personagens femininas, entramos na chamada “zona de conforto”, onde esta e a outra série abaixo costumam ter seu público mais definido: as crianças. Com vocês, o gato robô Doraemon.

A série começou em mangá – e antes que perguntem, todas as séries citadas nesta matéria vieram dos quadrinhos – com uma história onde a imaginação infantil é tratada sem forçar a barra. História, por favor: Nobita é um garotinho pobre, azarado e que tira as piores notas da escola, até que um dia em sua escrivaninha surge o gato robô Doraemon. O nosso personagem-título tem uma missão, a de ajudar Nobita a ser uma pessoa melhor, apesar de que, a ajuda em si mais atrapalha e ambos entram em várias aventuras e confusões.

Sinopse familiar? Não há como negar que “Doraemon” segue um roteiro similar a “Sazae-san” e “Chibi Maruko-chan”. Então, qual é sua fórmula de sucesso? Suas aventuras, onde vemos Doraemon, Nobita e companhia vivendo várias delas regadas a muita imaginação, do tipo' que apenas crianças são capazes de pensar. Fora que Doraemon é um dos mascotes nipônicos mais queridos, com seu jeitinho e aparência - ou nunca sonhou em ter um robô como amigo, hein?

Pra conhecer melhor a série, tem uma matéria sobre a animação e origens no site JBox.


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Crayon Shin-chan
Ano de produção: 1992
Estúdio: Shin-Ei Animation
Episódios: Mais de 800, em exibição
Canal que exibe: TV Asahi
A série veio ocidentalmente: Sim, também já foi exibida no Brasil. Alguns filmes e especiais já legendados.
Equivalente ocidental: “Os Simpsons”
Principal carrasco: Doraemon e as séries acima dele

Uma criança moderna... e qualquer semelhança com “Os Simpsons” não é mera coincidência...

“Crayon Shin-chan” se encaixa no perfil de animações que trazem o universo infantil dos tempos modernos, portanto, a forma que o personagem interage com a família e amigos é menos inocente e mais crítica.

Nas primeiras fases o anime tinha um conteúdo mais pesado, mas por causa da popularidade e por competir com “Doraemon” ele teve de ser suavizado. O que não significa que tenha perdido sua essência, muito pelo contrário, isto firmou mais a animação no ranking e a tornou o que é. O personagem é um garotinho de cinco anos, que gosta de causar confusão – daquelas que os pais proíbem – e mostra seu dia-a-dia ao lado da família, amigos e conhecidos.

Shin-chan pode não ser o tipo de personagem infantil inocente, o que faz lembrar as crianças dos tempos modernos, com pensamentos e que enxergam o mundo com crítica e mais sensibilidade. Outro ponto interessante é seu traço: como se os desenhos fossem feitos por uma criança, com giz de cera, por isso o crayon do título. Um verdadeiro pestinha, se quer uma opinião curta e direta.

Há uma matéria no site Modo Meu que explica melhor sobre a animação.


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Detective Conan
Ano de produção: 1996
Estúdio: TMS
Episódios: Mais de 700 e em exibição
Canal que exibe: NTV
A série veio ocidentalmente: Sim e parte dos episódios, filmes e especiais legendados
Equivalente ocidental: “CSI”
Principal carrasco: As séries acima dele

O divisor de águas do ranking, o que tem características dos quatro animes acima e que também tem das animações que aparecem abaixo deste.

A saga de Edogawa Conan e companhia têm estado bem presente: apesar dos anos ininterruptos, tanto o mangá quanto anime tem mostrado a estética de série policial. O enredo conta sobre Kudo Shinichi, que é um detetive colegial e sabe usar seus conhecimentos pra resolver casos policiais. Até que durante um caso topa com dois homens de preto e vai atrás, onde estes o nocauteiam e dão uma droga que, ao invés de matar, o faz voltar a ser criança.

Outro ponto interessante está exatamente por se encaixar nos shounens mais comuns, já que os casos policiais são os equivalentes as lutas dos shounens de batalha. Por isso o termo de divisor, pois abaixo deste estão as séries mais comuns e a maioria conhecida pelo público ocidental.

Pra conhecer melhor a série há uma resenha minha no Animecote, clique aqui para acessá-la.


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Por que estas séries estão sendo citadas?
O principal motivo está no fato delas terem características em comum, que as tornam parte do ranking em si. Abaixo, as características propriamente ditas:

  • Traços
Com exceção de “Crayon Shin-chan” e “Detective Conan”, as demais possuem o traço similar, por terem sido desenhados nos anos 60/70 ("Chibi Maruko-chan" é novo em comparação, porém vem de um mangá antigo), o que justifica a estranheza ao ver imagens delas e comparar com animações mais novas. Isso se deve porque o que conhecemos de mangá e animes ainda estava em desenvolvimento na época. Portanto, a simplicidade é comum para “Sazae-san”, “Chibi Maruko-chan” e “Doraemon” mesmo tendo passado tanto tempo.

  • Longevidade
As cinco séries têm uma quantidade absurda de episódios, encaixando no perfil de animes longos. O fato de serem infinitos está no fato de nenhuma delas – até agora – ter um prazo de término, como as séries que acompanhamos. E sim, se alguma terminar ou tiver folgas o ranking sofre mudanças significativas.


  • Episódios bem definidos e descontinuidade
Fator a ser observado com atenção: as cinco animações acima têm a estética de seus episódios bastante definida, o que fica fácil entender o roteiro de cada uma. Afora que se pode assistir qualquer episódio, na ordem que quiser, pelo fato de não seguirem uma história padrão, como nos animes que conhecemos. Sem pressão de arcos e dificilmente dá pra distinguir fillers no meio deles, a exceção fica para “Detective Conan” que ainda tem mangá e há episódios que se encaixam na história original.

  • Nipônicos na veia
A característica mais importante das séries, sendo este um dos segredos de tanto tempo no ar e manter uma boa audiência: mostrar o Japão como é. Peraí: como assim, perguntam? Simples e bastante curioso, é o modo como elas retratam a cultura, costume, lugares e tradições do povo japonês ao público.

Mas os animes que assistimos também não fazem o mesmo? Sim e não. Parte dos animes tem a estética mais imaginativa e dependendo da história, o palco não é o Japão. Sendo assim, estas cinco animações conseguem mostrar aos que assistem como é a vida por lá – com ou sem o uso da imaginação – o que interfere na hora de serem exibidos fora do país de origem.

Pra ter uma noção, com exceção de “Sazae-san” e “Chibi Maruko-chan”, as demais já foram exportadas e exibidas em vários países e têm sido legendadas mundo afora. Por mostrar o país em si, fica difícil para ocidentais, como nós, entender certas situações que estas séries passam. É preciso ser mente aberta para aceitar o dia-a-dia da Sazae, as traquinagens da Maruko-chan, as aventuras de Doraemon e amigos, o jeito criança moderna de Shin-chan e as investigações policiais do Conan.

Elas são parte da cultura japonesa, como as novelas televisivas, seriados e livros: revelam a faceta de um país e levam para o público leigo sua personalidade.

  • Posições no ranking
Tirando as polêmicas de lado, a posição destas séries é bem definida: “Sazae-san” e “Chibi Maruko-chan” em primeiro e segundo lugares – tirando as folgas e interesse do público no episódio exibido da semana – “Doraemon” e “Crayon Shin-chan” costumam ficar em terceiro e quarto lugares, muitas vezes revezando entre eles; por último, “Detective Conan” em quinto e às vezes, acima ou abaixo desta posição. Falando de folgas, todas costumam ter algumas apesar de serem raras, e a audiência fica meio maluca quando não são exibidas. Se for dos que acompanham o ranking em si, não se preocupe: faz parte da magia televisiva.



E, se forem exibidas no Brasil?
Imaginemos por onde estas séries teriam espaço na televisão brasileira...

“Sazae-san”, “Chibi Maruko-chan” e “Doraemon” teriam melhores chances em canais educativos ou infantis, por terem um conteúdo mais leve. Classificação livre pra todas as idades seria moleza pra elas e exibição de manhã ou tarde, uma maravilha. Para “Crayon Shin-chan” este teria chances em canais fechados e de preferência exibição noturna, digamos, umas dez da noite pra não ter cortes e classificação etária? Pra maiores de doze anos, é claro!

Já “Detective Conan” teria mais chances em ter exibição por conta da história se encaixar nos padrões comuns de seriados, e um canal certo... a TV Cultura, pois se exibiram as fases atuais de “Doctor Who” e “Mad Men”, quem sabe. A mesma classificação etária dada para o Shin-chan e exibição à noite.

Também deve ter cuidado para dois detalhes: tradução e dublagem, pois como mostram a rotina e cultura japonesa, tem de haver coerência e adequar ao estilo que os consagrou. Escolher boas vozes e o estúdio ter pique pra ficar bem natural a interpretação dos personagens.


Considerações finais
Como puderam conferir, dizer que estas cinco animações são perda de tempo é um erro fatal. Elas fazem parte do que chamamos de clássicos, cada um com sua personalidade, cada um com seus elencos de personagens e uma fórmula simples e sem enrolações. Se estão no ranking é porque para os japoneses, vale a pena assistir cada uma delas e se tivermos um pouco de imaginação, famílias as assistem sem compromisso, estejam juntas na sala ou em cada cômodo de suas casas.

Em vista disso, da próxima vez que ouvir que “Sazae-san”, “Chibi Maruko-chan”, “Doraemon”, “Crayon Shin-chan” e “Detective Conan” não saem do ranking de TV, não seja negativo a elas e sim, tenha curiosidade de ao menos entender o que as tornam tão vistas e infinitamente infinitas...



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5 comentários:

  1. E tem gente que reclama de Naruto e One Piece são longos XD...

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    1. Para o que se propõem são longos mesmo... poderia haver menos enrolações em ambas, especialmente Naruto.

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  2. Matéria bacana, me lembrou um pouco os X-10 (e Mafalda).

    Desses só conhecia pelas varias referências aos 3 ultimos que existem por ai, já os dois primeiros eu realmente nunca tinha ouvido falar.

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  3. gostei da matéria , concordo que eles fazem esse sucesso por que mostra a vida comum do povo japonês , acho que iria gosta , já que gosto muito de ver os costumes do japão , quando doraemon passava na manchete eu não perdia um , vou tentar assistir .

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  4. Muito obrigado pelo conteúdo, fiquei feliz em conhecer melhor essas obras que parecem ser base da cultura da relação japonesa com animações

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