17 de outubro de 2012

Resenha: Binbougami ga!




Repleto de referências a outras animações, um dos maiores méritos de “Binbougami ga!” é ser capaz de manter um humor estável durante toda a sua duração



Ano: 2012
Diretor: Yoichi Fujita (“Gintama” epis. 100-201)
Estúdio: Sunrise
Episódios: 13
Gênero: Comédia
De onde saiu: Mangá, 13 volumes, em andamento.

*****




Esbelta. Inteligente. Saudável. Rica. Jovem. E dona de um busto invejável – peituda, sendo exato. Ichiko Sakura é uma estudante de dezesseis anos cuja vida nunca sofreu um revés, jamais passou por dificuldades, graças à sua habilidade inconsciente de roubar a energia de felicidade dos outros – e sua sorte é de tal forma absurda que acaba causando um desequilíbrio na energia do mundo, chamando assim a atenção dos deuses, que enviam um dos seus para resolver essa situação.

Temperamental. Sarcástica. Pobre. Azarada. E sem peitos – picadas de mosquito, precisamente. A deusa da pobreza Momiji recebe com prazer – como ela ousa ter peitos daquele tamanho?! – a tarefa de fazer com que sorte e azar retomem seu equilíbrio normal, e para isso ela deve impedir Sakura de continuar roubando a energia de felicidade alheia, além de ter de retirar dela parte de sua imensa sorte para assim devolvê-la aos seus donos originais. Com a ajuda de muitas bugigangas e um urso de pelúcia mudo mal encarado, a grotescamente azarada Momiji terá de se esforçar muito para conseguir superar Sakura e sua boa vida.


Baseado no mangá homônimo publicado desde 2008 pela Jump Square, “Binbougami ga!” faz parte de um subgênero que foi bastante explorado na última temporada: paródia – um dos animes com esse tema, inclusive, já tem um texto no site, “Ebiten”. E, este título que citei está longe de ser algo bom, e por vários motivos, mas um deles é constante em obras desse tipo: a dependência quanto às suas piadas referenciais. Entretanto, “Binbougami ga!” escapa com folga dessa sina; pode ser interessante e às vezes engraçado certas paródias inseridas no meio da história, mas o melhor disso é perceber que o anime não tem somente isso a oferecer, e nem cai de nível quando não está praticando tal humor.

Após um primeiro episódio que casa muito bem comédia com drama, “Binbougami ga!” basicamente narra a relação de amor e ódio entre as protagonistas, mostrando as inúmeras tentativas frustradas de Momiji em cumprir sua missão, e Sakura exibindo seus seios far... Passando por acontecimentos que a ensinarão lições que sua vida cheia de sorte a impediu de aprender. É uma comédia nonsense, porém ela não se esquece de desenvolver, ao menos, sua personagem principal – essa mania de às vezes se levar a sério geralmente não dá muito certo nesses animes amalucados, mas “Binbougami ga!” consegue passar por esses momentos sem exagerar na dose nem insultar e entediar o espectador. No mínimo, mesmo para quem não aprova essa mescla de gêneros tão diferentes, há de admitir que isso humaniza mais Sakura, que num primeiro instante pode causar alguma irritação por sua extrema arrogância.


Vale de tudo: de itens que lhe fazem ouvir os pensamentos das pessoas a outros que causam dor extrema ou apenas lhe permitem trocar de roupa em questão de segundos (?), Momiji e seu companheiro de pelúcia Kumagai não medem esforços nem poupam dinheiro – apesar de serem terrivelmente pobres... – para tirar de Sakura a sua alta quantidade de energia de felicidade. Algumas ocasiões pedem um auxílio extra, e não importa se ela vem na forma de um deus cão sadomasoquista ou novos deuses da pobreza tão (in)eficientes quanto Momiji; do outro lado, Sakura também tem seus aliados, mesmo que estes sejam um monge negro tarado chamado Bobby ou uma colega de classe exímia em caratê que se comporta como um garoto – mas, no final, tudo não passa de uma verdadeira algazarra onde quase sempre muitos saem feridos (para felicidade do deus cão, nesse caso) e ninguém sai tão vitorioso. Tendo um humor que se baseia fortemente no comportamento de seu elenco carismático e, em segundo plano, nas situações criadas e em gags visuais, “Binbougami ga!” ostenta uma variedade de personagens que diverte o quanto pode com suas ações repetitivas, tanto faz se com um monge falando de peitos a cada aparição ou uma deusa “tábua” se ofendendo com a mera visão do volumoso busto de Sakura. Nesse processo, a quarta parede é menosprezada e destruída sem cerimônias, em um ambiente no qual se pode presenciar personagens reclamando do espaço perdido na história, ou, um professor respondendo honestamente à sua aluna que a sala tem muitos alunos transferidos porque “é a sala da protagonista do anime” – e esse ponto e outros (como sua honestidade quanto ao fanservice que tem, por exemplo) deixam explícita a postura da série em relação aos próprios elementos manjados que usa, sendo que constantemente se aproveita desses momentos apenas para tirar sarro deles e, logo depois, tomar um caminho levemente diferente e cômico.


E ao detalhar o estilo de sua comédia, não tem como ignorar as ótimas referências e paródias feitas por “Binbougami ga!”. O autor do mangá, Yoshiaki Sukeno, deve ser talvez um grande fã de “Dragon Ball”, pois em quase todo episódio se vê alguma piada voltada a ele, tendo o ranzinza Vegeta e o velhinho tarado Roshi Muten como os mais “homenageados”. Por ser publicada pela Jump, não chega a espantar ver que os animes citados com maior frequência são de obras originárias dessa revista, do próprio “Dragon Ball” a “One Piece”, “Bleach”, “Kinnikuman” e “Death Note”, jamais esquecendo também o icônico “Hokuto no Ken” – a estes dois últimos reservaram, aliás, as que são de longe as paródias mais bem elaboradas do anime inteiro. Indo de “Pokemon” a animações da Ghibli e séries populares da atualidade ou do passado, “Binbougami ga!” atira para todos os lados nessa área, e com inteligência faz com que essas referências se encaixem naturalmente ao seu enredo louco; geralmente, a situação cria a piada, não o oposto. Contudo, mesmo quando o anime não está usando mão dessas ferramentas, é gratificante ver como ele ainda permanece bom e engraçado, e numa admirável estabilidade (o décimo primeiro episódio tem tanto fôlego quanto o primeiro), graças aos personagens e as atitudes que estes possuem – na realidade, se em algumas animações tais referências são o principal destaque (e às vezes o único), em “Binbougami ga!” elas tem um papel até que bastante secundário, tornando-se apenas mais um método para fazer rir, e não atrapalhando o andar do anime caso o espectador desconheça as suas origens. No fundo, o bom entrosamento do elenco é o maior atributo que a animação carrega, seguido pelo desenvolvimento psicológico da bela Sakura.


É aquilo: uma garota rica que tem de tudo, ou ao menos pensa que tem. Orgulhosa, vaidosa, egoísta e invejada, Sakura esnoba e ignora todos aqueles que lhe rodeiam, com exceção do bondoso mordomo que sempre esteve presente em sua vida, até mesmo mais do que seus pais, Suwano. A vinda de uma deusa maltrapilha que veste só um pé de sapato, e o conhecimento de que ela rouba a felicidade daqueles próximos a ti obrigam Sakura a rever seus conceitos em meio a acontecimentos improváveis e inesperados, onde seus verdadeiros sentimentos e emoções são expostos e analisados com tocante sutileza. “Binbougami ga!” se arrisca em um campo que muitos animes do tipo erram feio, mas aqui o resultado disso é satisfatório e convincente desde o primeiro episódio, com raras exceções - o passado dela, por exemplo, deixa a desejar. Ela aprende, ela teima em aprender, ela admite suas falhas, sem, contudo, abandonar de vez suas crenças... Mudanças amenas e verossímeis que vão ocorrendo sem pressa ao longo dos treze episódios. Ainda trata o dinheiro de forma leviana, continua presunçosa, não perde a oportunidade de se exibir com seus seios fartos e não pensa duas vezes em resolver uma discussão da maneira mais violenta e barulhenta possível; porém, internamente, as transformações são significativas e aceitáveis.

Particularmente, gosto muito de Hanazawa Kana (seiyuu da qual já fiz um post a respeito, “Dez animes com Hanazawa Kana”), e, se dublando Sakura ela não faz um trabalho memorável, é interessante notar como seu tom de voz é tão diferente do habitual, ou, sendo preciso, é completamente normal; com exceção dos flashbacks sobre a infância da protagonista, aqui dificilmente se ouvirá aquela voz infantil exageradamente doce e enjoada, comum em vários papéis seus de garotinhas ingênuas, como em “Steins;Gate”, “Kobato”, “Kami Nomi zo Shiru Sekai” e por aí vai – Sakura pode continuar ingênua em várias coisas, mas não a graus tão extremos e irritantes que nem Mayuri ou Kobato. Porém, se por fim há Haruka Tomatsu engrossando a voz na pele de Ranmanru Rindou e Yoshihisa Kawahara dublando um impagável e pervertido monge, o maior destaque fica por conta de uma seiyuu novata, Yumi Uchiyama, que teve seu primeiro trabalho no ramo há pouco tempo, em 2011, no fraquinho “A-Channel”, enquanto que em “Binbougami ga!” ela dubla a “despeitada” Momiji. O mais elogiável da atuação dela nesse anime é a sua capacidade de alternar entre duas vozes tão distintas e atraentes, da comum, forte e enérgica Momiji adulta à fofinha usada nas horas em que a deusa “chibi” explica o funcionamento de suas engenhocas. Ela atualmente se encontra em um papel coadjuvante no anime “Sukitte Ii na yo.”, mas certamente a visibilidade dada por “Binbougami ga!” lhe garantirá novas atuações como protagonista no futuro.


Com um “character design” bonito, agradável e apelativo - no caso das personagens femininas -, e duas boas músicas pop de abertura (“Make My Day”, do cantor Piko; sim, um homem) e encerramento (“Koi Boudou”, de HAPPY BIRTTHDAY), “Binbougami ga!” obtém dessa forma uma uniformidade em toda a sua produção e torna-se, assim, em uma das melhores comédias lançadas em 2012 – ainda que esse ano não esteja tendo muitas boas opções no gênero. Deuses e humanos deram início a uma insensata disputa que, pode não chegar a lugar algum e nem resolver nada, mas pelo menos garante um bom número de risadas.



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Nota: 8

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4 comentários:

  1. Gostei do anime. Ri bastante. kkkkkkkkk
    To assistindo esse danshi... que ta na imagem e to gostando tb.

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  2. Eu tava começando a pensar que ninguém mais havia gostado de Binbougami.
    Eu sou bem fã deste estilo de comédia 'pastelão', gosto de dar umas boas risadas descomprometidas e esta série me garantiu bons momentos.

    A comédia em si não é inteligente, mas como você mesmo citou o autor sabe usar as referências de forma inteligente e com um ótimo timing.
    Além disso eu gostei do plot, que mesmo tendo suas falhas, a princípio é bastante criativo.

    E claro o casting é genial. Fazia muito tempo que não gostava tanto de uma personagem feminina como a Momiji. A

    Muito bom este blog. Acabei de conhecer pelo Yopinando!

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    Respostas
    1. Também me diverti bastante assistindo esse anime.

      Agradeço o comentário e espero que continua visitando o animecote e o yopinando tb. :)

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