30 de outubro de 2013

Corrente de Reviews: Kokuhaku






Idealizado pelo Anikenkai, é a primeira vez que o Anime Cote participa da "Corrente de Reviews", e infelizmente nessa estreia podemos dizer que a corrente nos chegou partida (e já é a terceira vez que isso ocorre no evento), pois aquele que nos pegou no sorteio não deu sinal de vida. O blog Shonen Mania deveria ter feito a sua postagem nessa semana, porém seu dono o abandonou oficialmente mês passado, como podem ver lendo o comunicado da última postagem feita por ele.

O chato é que passaremos a Corrente para outro blog em situação semelhante, mas que ao menos fará sua parte no evento antes de encerrar suas atividades. Enfim, ficamos quase que totalmente isolados!

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Vejo qualquer coisa, gosto de tudo, mas quando é para escrever resenhas acabo me limitando a certos tipos de obras - e como sou o que mais posta elas hoje, e unicamente a respeito de animes, talvez por isso tenham nos recomendado logo um mangá, e ainda um cujo gênero mal abordo nos textos que faço. 

Porém, adoro Nobuyuki Fukumoto, sendo "Kaiji" o meu favorito, com seu protagonista idiota que não aprende com seus erros, contudo se ferra tanto e injustamente que não é difícil torcer sinceramente por ele para que saia de cada enrascada e, quem sabe (esperança nunca é demais), tome algum rumo na vida. Se tenho algo a reclamar da obra que me passaram é o fato de ser curtíssima, 1 volume, e para piorar com uma trama da qual discorrer muito não é recomendável, e por conta disso essa resenha será bem menor do que as que normalmente escrevo. Apresentarei a história, tentarei expor a sua essência para atiçar a curiosidade do leitor, e vou parar por aí. Que nem é mostrado em "Kokuhaku", às vezes falar pouco, ou mesmo não falar nada, acaba sendo a melhor opção.



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Ano: 1999
Autor: Nobuyuki Fukumoto (“Akagi”, “Kaiji”)
Volumes: 1
Gênero: Drama / Suspense


É Fukumoto transformando os seres humanos, novamente, em criaturas patéticas e mesquinhas




Dois amigos alpinistas, Asai e Ishikura, ficam presos em uma tempestade após um acidente no Monte Owari, a mais de três mil metros de altitude. Ferido e acreditando que não sobreviverá por muito mais tempo, Ishikura decide confessar a seu amigo de longa data um pecado cometido por ele no passado, a fim de aliviar o fardo que carrega há anos.

Contudo, Asai consegue achar, no último instante, uma casa que serve como abrigo para os alpinistas que ali passam, e assim ele e Ishikura saem da forte tempestade. Livres da força da natureza que os castigavam do lado de fora, será preciso ainda esperar durante dois dias pelo resgate, já que o machucado de Ishikura e o mau tempo os impedem de seguir viagem. Dois dias estes longos e gelados, onde uma confissão dita talvez não na melhor ocasião pesará demais nos ombros desses homens, que aos poucos perderão sua sanidade nesse ambiente isolado.



Seja através de um jogador de mahjong, um jovem azarado endividado e sem rumo ou um operário de meia-idade ainda mais azarado cuja vida não saiu bem como ele queria, as tramas de Nobuyuki Fukumoto têm em comum o fato de mostrarem de forma até que caricata o lado mais asqueroso e patético do ser humano, um lado vergonhoso, envoltas de um denso drama psicológico - e elas, em resumo, são abordadas de duas maneiras distintas. A mais conhecida seria aquela no qual o dinheiro e status ditam as regras; seja por meio de uma representação coletiva ou individual, é comum presenciar abusos de autoridade e humilhações sobre aqueles considerados inferiores (inferiores porque não têm poder e dinheiro suficientes), pondo estes em cenários de tal maneira angustiantes que a dignidade e os valores morais muitas vezes desaparecem. Apenas os protagonistas dessas tramas são exceções, homens geralmente teimosos, ainda comuns e fracos que se perdem e pecam em vários momentos, mas que, por outro lado, conseguem de vez em quando algum lampejo de genialidade ou pura e caprichosa sorte que os distinguem do restante por alguns minutos, e os salvam das situações mais adversas - cenários sujos dominados por apostas e jogos são os favoritos de Fukumoto para isso, porém não chegam a ser os únicos usados.

Outras obras dele, no entanto, focam mesmo nas camadas mais baixas da sociedade (o dinheiro e status podem continuar a exercer alguma influência, mas não são exatamente o destaque), com protagonistas que são vítimas de suas mentes frágeis e de eventos inesperados de grandes proporções - aqui, os cenários variam, de um senhor de idade buscando vingança pela morte da filha a operário infeliz que tenta, em um primeiro momento, ao menos ser mais popular entre os colegas de trabalho. E é nesse grupo que "Kokuhaku" se encontra, um mangá onde outrora dois grandes amigos se perdem em delírios e fazem mal a si próprios.


Uma frase solta, um olhar, um gesto; a frase pode ser banal, o olhar indiferente e o gesto involuntário, mas para quem acabou de ouvir o que preferiria não saber esses sinais trazem os piores significados possíveis. Asai, do fundo de seu coração, promete a si mesmo que levará ao túmulo a confissão de Ishikura, mas sua imaginação sai de controle e o faz duvidar das intenções do amigo, antecipando um perigo iminente para a própria vida que pode nem existir - isso enquanto alterna entre a certeza de que ele jamais faria mal algum e a convicção de que algo ali está sendo tramado contra si. Já no outro canto do abrigo, visivelmente arrependido do que disse e com uma perna imobilizada devido ao acidente que sofreu, Ishikura não traz confiança; seus traços rudes e o olhar mortiço nos impele desde o início a pensar o pior de sua pessoa, e o pecado cometido por si também não ajuda muito. Porém, com seus monólogos internos, estamos sempre vendo apenas um lado da moeda, o de Asai, e um lado bastante perturbado e subjetivo. Ishikura, quem sabe, talvez também esteja passando por conflitos semelhantes, não sendo somente o homem calculista e de fisionomia suspeita que a visão de Asai nos transmite.


E é “brincando” com tais incertezas e paranoias que Fukumoto dirige boa parte desse drama psicológico de 300 páginas, segurando o máximo que pode (a ponto de deixar a narração um tanto arrastada em breve momento) a dúvida crucial da trama, porém surpreendendo em seguida com reviravoltas pontuais e enquadramentos criativos que culminam em um desfecho inesperado. Muito da tensão criada, aliás, não se baseia unicamente nas dúvidas e ações dos personagens, mas também no local em que ambos se encontram – afinal, trata-se de uma casa na montanha onde sair não é a melhor opção, a não ser que deseje uma morte gélida no meio de uma tempestade. Com dois andares, várias salas e pouca iluminação, esse personagem inanimado à parte agrava ainda mais a situação de seus já debilitados hóspedes, em especial o de Asai no começo – uma sombra ou um som inofensivo tomam ares assustadores em sua cabeça. E, não sendo possível ir muito fundo em relação ao que ocorre devido a esta ser uma história na qual mesmo “spoils” mínimos são prejudiciais, dá ao menos para relatar e enaltecer como Fukumoto mais uma vez transforma, pouco a pouco, seus personagens humanos em criaturas dominadas pelo medo e desespero, onde, ao mesmo tempo em que há um sutil e equilibrado jogo mental entre os protagonistas ao tentarem prever os atos e intenções do outro (quase um simulacro das histórias com apostas e jogos de azar do autor), com frequência suas emoções desenfreadas sobrepujam a razão e destroem qualquer linha de raciocínio. E, uma vez que isso corre, atos impulsivos e incoerentes são comuns, atos esses tão irremediáveis quanto a confissão inconveniente de Ishikura.


São duas pessoas enclausuradas à força em um local, e postas em um clima constante de desconfiança e olhares furtivos, antes de nos ser revelado o verdadeiro rumo desse cenário. Se agasalhe bem pois a noite é fria, poupe a comida porque ela é pouca, e, acima de tudo, tome cuidado quando for dormir - quer dizer, se você tiver coragem de fazer isso em tal situação. Há somente dois dias pela frente, mas para esses homens a espera parecerá bem maior.




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Torço para que eu tenha provocado a curiosidade em alguns para ler tal mangá, mesmo com um texto tão enxuto, e agora a Corrente segue em frente. Como já mencionado, o blog sorteado para o Anime Cote fará sua última postagem justamente na Corrente de Reviews, e depois encerrará suas atividades. Trata-se do Mangás Cult, cuja obra a ser resenhada pelo seu dono, Nintakun, será o psicodélico anime Kuuchu Buranko (imagens ao lado) de Kenji Nakamura, diretor que gosto bastante - apesar de ter achado fraquinhos "C" e "Gatchaman Crowds", mas por outro lado tem "Mononoke", Tsuritama" e o próprio "Kuuchu Buranko", que considero sensacionais.

Conheci esse blog há pouco mais de um ano, na própria Corrente de 2012, quando já não era mais muito atualizado. Mesmo não sendo um leitor assíduo de mangás, acompanhava seus posts. Enfim, boa sorte Nintakun no que vier a fazer de novo no ramo; vários blogs que eu acompanhava foram abandonados nos últimos meses, porém dentre esses o seu era o que tinha o melhor conteúdo - apesar de você talvez não concordar muito com isso, considerando o que escreveu no último post, ha.

Para visualização de todos os blogs participantes e suas respectivas resenhas, clique aqui.


Outras resenhas de minha autoria:
3 em 1: Cyclops Shoujo Saipuu, Kogepan e Out of Sight
GJ-bu
Cuticle Detective Inaba
Mitsudomoe
Binbougami ga!



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Meus perfis:
MyAnimeList (com recomendações semanais de posts de outros blogs)


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2 comentários:

  1. Saudações


    Uma obra interessante esta. Pode-se aqui dizer que a mesma pode surpreender durante seu prosseguimento, embora eu deva confessar que ela passe um tanto distante d emeu gosto pessoal...

    Bom post, nobre.


    Até mais!

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  2. Como vai Erick Dias?
    Se aceita sugestões,ouça essa música para acompanhar o comentário que vai ao encontro do manga analisado: http://www.youtube.com/watch?v=vhSHXGM7kgE&hd=1

    Pensava que participaram da Corrente de Reviews(1).E pense como a situação de vocês na Corrente de reviews(2) ilustra a direção que o evento tomou com base nos nascimentos,mortes e desaparecimentos de blogueiros;são os elos da corrente... Pelo menos ou por coincidência,apontaram algo de agrado fácil a quem teria a autoria da resenha,sem deixar um pequeno desafio de fora.

    "O melhor segredo é o que só um sabe...",portanto até a hora da morte que as pessoas acham saber na exatidão,é tida como sabida somente por Deus.Daí se o que confessa e o que toma ciência da confissão tem que conviver depois;problema?

    De certo ângulo,"Virar a mesa.Quebrar a banca.Tirar a sorte grande.Dar o golpe de sorte.",esteja além do convencionalmente afligido pelo Jogo patológico,vício em jogar ou ludomania,pois ter força para "se virar contras as injustiças da classe dominante,é um anseio (in-)confessável dos 'ressentidos'" caso
    tivessem a oportunidade.Assim como a aflição de ter que dividir o fardo do segredo,sendo o pior quando a pessoa atazana a outra como um 'espírito obsessor' por alguma coisa que nem ela mesmo deu conta de suportar. O-o

    Personagens em falácias da dicotomia criando mais e mais tarefas pra pobre da mente que fica adoecendo no estresse dessa contrarregragem paranóica:Montagem e cena do espetáculo.Tudo tem que ser sempre um Jogo Mortal encabeçado por Jigsaw?Se for uma decisão,aparentemente tem a predileção com folga pelo jogo psicológico onde "os fortes sobreviverão".

    E sim,passei lá no MangasCult para ler o curioso Kuuchu Buranko,numa situação paralelamente curiosa às condições em que ele fora resenhado pelo ascendente blogueiro 'que não se reconhece mais na criatura'.Anyway deixarei uma mensagem póstuma a ele ou a posteridade de alguma maneira.

    Com isso,finda a apreciação da obra com nome de música de Angela Aki,Azusa etc.Achei ainda (somente?)um site traduzido *SPOILER** que está em português de
    Portugal(?),http://www.mangapt.net,MAS MUITO CUIDADO AOS INCAUTOS -COMO EU FUI- PORQUE A CONFISSÃO DO QUE É FEITO JÁ SURGE NA SINOPSE **FIM DE SPOILER**
    Na sua revisão,Kokuhaku me soou charmosamente misterioso,uma das mais misteriosas das indicações desse título ou teu Live Action.É bom ter identidade,não?:)

    Sobre o blog,reconheço o efeito mouseover('passar o mouse sobre',ex: branco sobre as imagens),diferenciar assuntos por cores e por parágrafos espaçados(bem espaçados,no caso) e pelo layout amistoso -Deveria citar o trabalho de "Alan Amorim (INS) Função: Webdesigner e editor de imagens."?- Porém foi bem esquisito encontrar a comentaristas e/ou os integrantes dos podcast fazendo parte do mesmo site: Evilasio Junior/Kyon,anachan e Escritora Otaku.
    Sinceramente,já tive de vontade de comentar aqui(Pode ser por ter lido resenhas no Animehaus.Sendo nessa parte acho que você(Erick Dias) e Bebop resenhavam),apenas não tive o incentivo necessário como a Corrente de Reviews pra "desenrolar o carretel",como diria naquele infame humorístico televisivo.
    Quem sabe um dia eu reparta minhas opiniões sobre Madlax,todavia isso é o que o povo chama de "floodar(Não importando o conteúdo)",porém isso é com outro integrante: O Bebop,né?


    Depois dessas doses de reflexões e de certa sinceridade...
    Hasta! :-)

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