17 de julho de 2014

Resenha: Guilty Crown







Conheçam xbobx, novo membro do Animecote que, em seu post de estreia, falará - e muito! - a respeito do anime "Guilty Crown". Bebop, eu e os demais integrantes da equipe lhe damos as boas-vindas, e esperamos que permaneça um bom tempo conosco trabalhando de graça...



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Ano: 2011
Diretor: Tetsurou Araki ("Death Note", "Highschool of the Dead", "Shingeki no Kyojin")
Estúdio: Production I.G
Episódios: 22
Gênero: Ação / Drama / Sci-Fi
De onde saiu: Animação original




Por xbobx



Intro.

Spotlight da Production I.G de 2011, "Guilty Crown" trouxe uma grande salada de mecha, sci-fi, adventure, drama e romance. Ambientado em um mundo futurista, mais precisamente em 2039, acompanhamos a história de Ouma Shu, um garoto “normal” sem muitas ambições que só se importa em ir da escola para casa e vice-versa, ainda meio desnorteado com a situação atual.

Acontece que 10 anos antes, na data que ficou conhecida como "Lost Christmas", um vírus letal de origem desconhecida foi liberado sobre Tokyo, matando praticamente metade da população. O governo do Japão, incapaz de lidar com a situação sozinho, solicitou ajuda internacional, e o controle político/militar e econômico de toda a nação ficou sob o controle de uma organização multinacional, a "GHQ". Como em todo autoritarismo, surgiram grupos rebeldes contrários a esse domínio, e um deles em especial, conhecido como "Funeral Parlor" tinha como porta-voz uma bela garota conhecida como Inori.

Em uma certa noite, Shu e Inori acabariam se encontrando, e esse garoto meio alienado seria obrigado a sair de seu mundinho e encarar a realidade, que não só abrirá caminho para uma nova revolução como também revelará muito de seu passado.



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(postado originalmente em inglês no @MyAnimeList.net) 

"Não há inocentes lutando em uma guerra,
tampouco nas linhas de frente."


Frases como essa, dificilmente vão abrir brecha para diferentes interpretações.
 
Se alguém está lutando, o faz por um ideal. Luta para proteger e assegurar a vida dos que ama, sem falar da sua própria. Entretanto, ao fazer isso, este individuo está tirando a vida dos que se opõem a ele. Nota a contradição?

Inevitavelmente, em algum momento surge o questionamento se aquilo é mesmo certo ou errado e um sentimento forte começa a se formar. Tal sentimento é parente do remorso e se chama culpa, o foco principal do anime. (Culpa = Guilt / Coroa = Crown = Guilty Crown. Haaaaaa!)

Agora, há quem diga “mas há sim inocentes, aqueles que não tinham nada a ver e foram pegos no fogo cruzado!”. Sim, quanto a isso não há dúvida, mas preste atenção na frase, tais pessoas não estão combatendo, portanto tal afirmação não se aplica a eles.

A analogia em questão é essa, pequenos erros de interpretação levam a uma conclusão distorcida em relação a algo que foi dito, e infelizmente, "Guilty Crown" é uma das séries polêmicas nesse quesito. Essa má interpretação acaba resultando em scores mais baixos para a série e menores ainda para a história, o que acaba no senso comum atual de que "Guilty Crown" é um anime “sessão da tarde” sem nada de especial.

Mas por quê isso?


Olhando superficialmente para a serie, "Guilty Crown" se assemelha muito a vários action/battle shounen que fizeram sucesso ao longo dos anos. Logo no primeiro episódio é fácil perceber uma semelhança com um certo mecha lançado anos atrás que também possuía uma temática envolvendo genética/DNA em batalhas¹; entretanto, conforme a história progride, ela se mostra muito mais complexa e profunda do que originalmente se apresentou. Se por fim, acabou desapontando tantas pessoas é porque foi má dirigida/organizada em pontos chaves e no clímax, mas, com certeza, possuía os elementos e a qualidade para ser uma masterpiece.

Ainda nessa questão, "Guilty Crown" não deve ser rotulado como uma aventura, ação ou um romance, está longe disso. Se trata na verdade de um drama. "Drama" por si só também é muito abrangente. Para resumir, podemos dizer que a série tem uma abordagem bem filosófica. O foco está em como uma sociedade pode vir à ruína diante de uma crise, como o poder corrompe, a importância de amigos, e especialmente, família. Isso fica claro com o desenvolvimento da história, mas pode também ser percebido através da OST (por sinal, muito bem produzida) em musicas como "Ready To Go" e "Friends". Por outro lado, se tudo isso é demais, a série ainda fornece um bom entretenimento para os que preferem somente assistir pelas batalhas e pela bela Inori-chan, só tenha em mente que a moral do conto não é tão simples quanto um x1 de robôs gigantes.

A razão pela qual a história de "Guilty Crown" afunda com o próprio peso é a quantidade excessiva de elementos e informação compactados em um pequeno espaço de tempo. O anime tenta contar a vida de seus personagens e da sociedade em que vivem, passando por seus primeiros atos até seu ápice e seu declínio, ao mesmo tempo que temos cenas de batalhas e ação a cada um ou dois episódios, com novos personagens, novos conflitos e novos desafios sendo introduzidos a cada novos 27 minutos. De forma alguma isso tudo caberia em 22 episódios, e foi aí que a Production I.G. perdeu a chance de fazer desse anime um sucesso.


O grande mistério, a chave pra história que é mantida em segredo durante toda a narrativa, foi conduzida perfeitamente durante toda a série e teve um final surpreendente que poucos realmente poderiam dizer que “já esperavam por isso”. Contudo, enquanto os roteiristas se ocupavam elaborando esse segmento da história, o produto final estava afundando, com diversos erros de continuidade e problemas não resolvidos. Ao perceber isso, foram aplicadas diversas mudanças ao roteiro, e a estrutura original de vários personagens foi modificada, gerando transformações absurdas de um episódio a outro na personalidade a ideologia de alguns.
Isso - não a história/roteiro original - foi o que afundou com o anime.

Tais mudanças, da forma repentina que foram aplicadas, foi o que mais abalou a dignidade da serie. Pessoas, no mundo em que vivemos, com certeza mudam de opinião e ideais através dos anos, e alguns acontecimentos trágicos ou oportunos podem fazer com seus sentimentos e atitudes sofram mudanças; todavia, ninguém sofre um 'loop' ético e moral da noite pro dia, muito menos se recupera de dias de sofrimento com o piscar dos olhos. Talvez, só talvez, se o segundo arco do anime (Ep. 13+)² tivesse sido separado em uma segunda temporada, o que ocorreu ficaria mais fácil de aceitar, mas, da forma que foi conduzido, não importa a forma com que se observe, foi muito abrupto.

Ainda sobre personagens, é interessante mencionar que ao contrário do que as sinopses insistem em informar, Shu (o protagonista) não é o "herói" da série. O personagem que possui tal título é outro e cabe a você, leitor, descobrir quem é. Shu, por outro lado, se assemelha muito à figura do Anti-herói. Aquele que renega sua posição e não quer tomar partido ou ser responsável pelo que está por vir, mas faz o possível para ajudar quando é necessário. Por isso, é sensato aceitar algumas das atitudes que ele toma ao longo da serie, sua personalidade é completamente oposta do padrão de "herói-protagonista" de shounens de ação. Ele é um garoto inseguro, não sabe o que fazer e possui uma tremenda falta de determinação. Se "Guilty Crown" foi original em algum aspecto, com certeza foi nesse.

Enquanto a crítica volta suas garras para a história, a OST é algo que ninguém se atreve a falar mal. O trabalho realizado com as openings/ending, com a OST e com o "SoundFX" em geral foi magnifico. Desde os pequenos efeitos de explosões até complexas músicas e karaokês (insert songs), todos soaram muito bem em ótima sincronia com o que se passava no visual.
Surpreendente também é a variedade de estilos presentes durante a série. As cenas de ação eram, em sua maioria, acompanhadas de drum & bass mas também possuíam trechos e solos de guitarras e teclados, já as cenas mais calmas vinham com excelentes composições de pianos e até uma ópera. Sem falar que essas insert songs, por sinal, possuem um significado importante pra história em sua letra. E apesar de muitos deixarem passar como um momento "oh, hora do soninho" é bem interessante prestar atenção ao seu significado.
 
Os seiyuu dos personagens também foram ótimas escolhas e não se pouparam recursos com esse cast, dado ao elenco experiente como personagens principais. Uma irreconhecível Ai Kayano (Girls Und Panzer, AnoHana) no papel da Inori, e Yuuichi Nakamura³ (Clannad, Arakawa, OreImo, Durarara!!) como o badass Gai são os highlights na opinião desse reviewer. Resumidamente, toda a divisão de som foi um prazer de escutar.

"Guilty Crown" é uma série que deveria vir com um aviso “assista com um cabo HDMI” pois além do som e músicas excelentes já citadas, o visual não deixa nada a desejar. Talvez não tão detalhado quanto filmes ou séries de alto valor da KyoAni, mas com certeza uma obre de arte para se assistir. Desde os efeitos de explosões até o (sempre mencionado) "character design".
Este último, bem executado, nos mostrou uma bela personagem principal, que sem sombra de dúvida, deve ter sido o motivador que fez surgir o interesse inicial de muitos pela série.


"deshou!?"


Uma forma interessante de definir "Guilty Crown" é como um anime “alternativo”. Não pelo visual ou música (não confunda com hippie ou indie) e tão pouco menos por seu roteiro, mas sim pelos pequenos easter eggs escondidos durante a narrativa. Em primeiro lugar, percebe-se um humor negro discreto no diálogo de muitos vilões, somado com uma ironia curiosa e detalhes sórdidos no decorrer da história. Não de forma evidente como em séries no estilo de Higurashi, HSOD, mas bem inserido nos detalhes. Além disso, é surpreendente a forma com que o anime consegue inserir cenas excêntricas em diversos episódios, com uma carga forte de melodrama, mas sem perder suas características de um “battle shounen”. Os últimos dois episódios trazem à tona uma ideologia polêmica, coberta de um delicioso sarcasmo que poucos estúdios arriscariam. O conflito do o que é são e o que é doentio, contracenando com o certo e o errado.

Aplausos para esse segmento.

Se fosse resumir em uma única palavra, diria que "Guilty Crown" é fascinante, ponto.
O desenvolvimento falhou em tantos aspectos que é difícil dar uma classificação maior para a série. Por outro lado, é cativante e viciante, sem falar que termina com um final muito bem bolado e um epílogo até que aceitável (onde muitos animes destroem com a história).


Definitivamente vale a pena assistir, por ser uma série única, excepcional. Excepcionalmente comum. 



--

Footnotes:
¹ - Sim, se você assistiu, estou falando de NGE ("Neon Genesis Evangelion"). A semelhança entre o Shu e o Shinji é absurda ao ponto que até os produtores a reconheceram. (fonte: TV Tropes / Wikipedia)
² - Também conhecido como "breather episode" é aquele episódio de meio de temporada. Onde não acontece absolutamente nada, é apresentando um pouco de fanservice e só. Vemos belas garotas correndo felizes por belas praias antes/depois de lutas sangrentas e intermináveis :D
³ - Yuuichi Nakamura é com certeza um cara versátil. A mesma voz de criancinha mimada do Kyousuke não é ninguém mais, ninguém menos que o Tomoya de "Clannad" e Gai aqui em "Guilty Crown". Kuddos to this guy!



Nota numérica: 
Roteiro - 10
Artwork -
Som/OST/BGM - 10 
Personagens - 4 
Enjoyment -

Média: 7,8 




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[Epilogo/discussão/análise] The Everlasting Guity Crown.
-Comentários que não podem ser incluídos numa review, mas que devem ser partilhados-


O texto a seguir contêm SPOILERS. Não spoilers simples de review, mas SPOILERS ABSURDAMENTE, RIDICULAMENTE, ESPANTOSAMENTE perigosos para você caso ainda não tenha assistido a série.

Então se ainda não o fez, vá assistir e depois volte ler isso aqui. Não me responsabilizo pelos spoilers a seguir.


***

A primeira pergunta, e o que mais se escuta em fóruns e boards por aí, é o que deu errado em Neon Genesis Evangelion.

Ops-
Ehr... quero dizer, o que deu errado em "Guilty Crown".

Na verdade, as semelhanças entre os dois animes são notórias e não há dúvida alguma que os produtores de GC tiraram boas inspirações das sequências de batalhas e do simbolismo por trás de EVA. Nada é prova mais cabal disso que a própria entrevista do diretor, Tetsurou Araki, onde ele afirma que: sim, considera EVA uma ótima fonte de estudo quando se trata de MECHA.

Entretanto, se limitar a dizer o que GC “copiou” de outras séries e o quanto “não original” é o anime, seria simplesmente cair no senso comum que polui as comunidades hoje em dia. O que pretendo, aqui, é mostrar que GC vai muito além dessa temática action shounen de batalhas entre o “bem e o mal” e um “herói solitário que salvará a todos”.



Addendum.
Alguns termos utilizados podem não soar familiar para alguns, então, aqui vão os verbetes:
Oh Mah Shoe = equivalente cômico de Ouma Shu.
Soda = cômico de Souta Tamadate.
EVA (NGE - Neon Genesis Evangelion) = Anime. Se você não conhece, trate de conhecer.


Em primeira estância, GC tinha tudo para ser uma masterpiece.

A história foi bem bolada, com um tema principal bem definido e bem conduzido até o clímax e com vários subtemas sendo abordados ao longo da narrativa. A direção de arte e som foi magnífica. Nos apresentou cenários futuristas bem plausíveis e uma excelente quantidade de detalhes (quem puder, deveria assistir em 1080p). Isso tudo sem contar as diversas referências a outras séries e homenagens singelas a outros diretores ao longo da produção.

Acontece que a direção não se limitou a isso.
Eles tentaram trazer uma história complexa, cheia de mensagens nas entrelinhas, simbolismo e metáforas. Algo que o público não estava esperando e obviamente não conseguiu captar de primeira.

Agora, o que acontece quando as pessoas não entendem a mensagem que você está tentando transmitir?
Anime, e em especial o de demografia "shounen", atrai geralmente um público que busca um entretenimento despreocupado e tranquilo de acompanhar. Alguns conflitos por aqui... e belas cenas de batalhas de robôs.

“Guilty Crown” em seus primeiros episódios prometeu isso e deu uma amostra que esse público aprovou; todavia, conforme a história progrediu e começou a mostrar sua complexidade, sua infinidade de conflitos e relações, o público perdeu as rédeas da história.

Toda essa complexidade significava que os espectadores precisariam lembrar de trechos de uns 3-4 episódios atrás para entender o que está acontecendo. Para fãs de drama e séries com esse teor de complexidade, isso é algo estimulante. Por outro lado, para muitos dos espectadores que conhecem nada além de 10 anos de MOE, ecchi e "Waifu Simulator" (SAO) isso não faz sentido algum. Esse público foi condicionado a esperar toda a história mastigada e digerida, o que não requer um compreendimento pleno. Ao se deparar com algo no teor de GC...



Agora, devidamente explicada nossa situação, para a história e seu simbolismo propriamente dito:

Durante os 22 eps de GC, nós acompanhamos nada mais nada menos que o caminhar de uma sociedade. Desde seu nascimento, passando por seu ápice, até seu declínio.

A história começa do marco zero, o apocalipse (note: Apocalypse Virus- é fácil puxar referências bíblicas durante toda a série, sendo essa a mais explícita - Tokyo foi destruída e com isso surge a oportunidade de um recomeço. Mas, por ser da natureza humana, logo de início temos uma referência clássica a um regime autoritário/ditatorial. Com a GHQ no controle de todos os recursos e poderes no Japão, a sociedade vivia acuada, sem muitas projeções de futuro. (para os fãs de Batman: bem no estilo de Gotham dominada pelo crime).

Dentre os regimes abordados durante o anime, o mais interessante talvez seja o do período em que nossos personagens estão de quarentena. A escola está isolada, estamos praticamente no meio do anime, e é escolhido um novo líder (depondo a presidente do grêmio) por sua “excelência de valores e liderança” (please).

Ninguém mais, ninguém menos que... OH MAH SHOE.

MAS, todos sabemos quem realmente arquitetou tudo ali, nosso colega Yahiro, que em seu discurso à alta cúpula da resistência, proclamou:

-”From now on, the value of a person lies in the value of their void”



Seleção pelo valor de voids? HELLOOO!




Isso não se passa da mesma lógica corrompida que o Nazismo possuía. Vamos valorizar aqueles “fortes” e “nobres” e enviar os mais fracos e “inúteis” para trabalhos braçais forçados (campos de concentração = mergulhadores no anime. Lembram do Souta?).

Essa é uma das partes mais interessante da série, que retrata perfeitamente como o poder corrompe (caso do Yahiro) e como a CULPA é um sentimento extremamente forte (morte da Hare).

É nesse episódio que temos cunhado o título do anime. Shoe tinha se tornado “rei” e sua coroa... Ahãã!!
GUILTY CROWN.
HEIL SHOE
HEIL SHOE

E o exterior?
A escolha por cercar Tokyo e impedir qualquer contato com o exterior não era para simplesmente “matá-los mais facilmente” e sim uma estratégia militar psicológica. O objetivo ali era enfraquecer a cadeia de liderança, gerando conflitos internos e falta de união, sendo assim mais fácil de eliminar o movimento. O que vemos então, são dois regimes fascistas dos dois lados da muralha. Um externo, mais parecido com uma inquisição, querendo eliminar o pequeno grupo submergente, e um interno, selecionando os mais “úteis” e cancelando o livre arbítrio, em nome da “liberdade” e “soberania da nação”.

O responsável pela crise interna? Yahiro.
Seu personagem se alinha perfeitamente a Judas (já que estamos na linha de referências bíblicas mesmo) mas também à de um anti-herói igual ao Shoe. Logo no incio do anime, ele trai nosso protagonista, entregando-o para os militares. Posteriormente, descobrimos que ele o fez para proteger aqueles que ama.
Depois, tenta ajudar a todos elaborando esse sistema de seleção, mas inconscientemente estava segregando a sociedade. Com o Shu é o mesmo. Sua trajetória é composta de altos e baixos, tomando escolhas boas e ruins.

Nosso protagonista, SIEG SHOE, é um caso difícil de analisar.

Por um lado, ele se enquadra na figura do anti-herói. Aquele que não tem conhecimento do que é capaz, e tem medo de agir ou tomar a dianteira (HELLOOOOOOO EVANGELION!!) mas quando é preciso que alguém vá e faça, ele está disposto a ajudar.


Shoe escolheu por esquecer traumas do passado em vez de lidar com eles, e isso conforme vai vindo a tona, revela seu potencial.

Isso é exposto no próprio diálogo do anime, quando ele corta a linha da vida do Scarface (Waltz) e presenciamos tais linhas:

"Do you have it in you to kill me?"
"I'll get my hands as dirt as I have to, for their sake"

ALPHA AS FUCK.


Shoe também representa o que é comum de acontecer a quem está no poder quando uma sociedade é abalada. De início, ele é apresentado como o “salvador”, o messias! (Sim, ridículo, mas sim) aquele que trará a paz ao novo mundo, aquele que unirá a todos!

Basicamente, é a encarnação da esperança que todos tinham.

Entretanto, com a queda da moral e da esperança que todos tinham quando a GHQ inicia a quarentena. - além de emocionalmente abalado com a morte da Hare - ele passa a representar o vilão, o ditador. (Compare com a situação do Simon x Rossiu em TTGL)

Nada mais que uma válvula de escape do pânico e da pressão que todos viviam.


Mas, ao final da série, ele luta para salvar a todos, e a opinião pública muda drasticamente... Sem dúvida seria um mártir se morresse na queda da torre.

"SHOE! Are you trying to become the new savior?" - Yahiro quando Shu retira os Voids de todos (último ep). Sim, meu caro, as referências bíblicas estão por toda parte.

Mas há um PORÊM nisso tudo.

Os espectadores que compreenderam tudo isso, acabam por falhar em observar um detalhe.

No caso, nosso “salvador”, nosso mártir e o VERDADEIRO herói da série, não é ninguém mais, ninguém menos que a INORI. Yuzuriha Inori!! Ela abriu mão de sua vida, e fez o maior sacrifício para salvar a todos. ELA destruiu os voids, ELA impediu o sucesso da Mana, e acima de tudo, ELA deu sua vida pela do Shu.

(Note a cama de gato: “strings that connects people's hearts”)

Então, o que escutamos por aí de que "Shoe é uma porcaria!" "personagem irritante, fraco!" "que tipo de herói é esse?" Mas é claro! Ele não é o maldito herói!!! Quem representa essa figura é a Inori. Engraçado como em muitos animes a própria abertura nos dá dicas. Já parou pra pensar o que a Inori segura na OP1 do anime? Não é uma maldita cruz?

HAAAAAAAAAAAA!!!!

Nisso entramos no conflito moral/ético do anime:

Por quê a morte da Inori não impacta tanto quanto a do Shoe? Por quê foi ELA quem morreu?

Quando pensamos sobre isso, é preciso lembrar de sua origem. A Inori na verdade era uma forma sintética de vida, criada para “reencarnar” a Mana. Foi desenvolvida em laboratório e não possuía parentes ou mãe/pai. “Ela não foi concebida biologicamente, então qual o direito ela tem de estar viva?”, entende? Essa é a lógica por trás de sua morte.

Quando os planos de realizar um novo apocalipse caem, nos últimos episódios, quando a Mana finalmente é negada de sua reencarnação e os voids são extintos, todas aquelas evidências de seres que tentaram “brincar de Deus” são apagadas.
Seguindo a lógica, a Inori é parte disso, portanto ela também “DEVERIA” sumir junto. Isso recai muito em conceitos éticos, da clássica “não se pode sintetizar vida”. POR ISSO, o público aceita sua morte mais facilmente e a produção preferiu assim, mesmo que inconscientemente.

Agora, e se o Shoe morresse?

O anime perderia sua base moral.

Como muitos sabem, a maioria dos animes possuí uma mensagem por trás. Aquela “moral da história” que conhecemos de fábulas infantis. Se o Shu morresse, a moral estaria perdida. No fim da história, não vale de nada um mártir.

Matá-lo seria o mesmo que dizer: você batalhou, batalhou, para salvar e proteger aqueles que ama, e no fim, sua recompensa por esse esforço foi a morte.
Isso depende muito de como cada um vê a “morte” em si, mas não é uma moral interessante pra se passar a um público jovem, é?


E os vilões?

Certamente a parte mais interessante de todo o anime.

DAN, o espírito americano!


Não é preciso nem explicar a clara sátira que temos nesse caso. O DAN, militar bobão, que não tem vontade própria, somente segue ordens como um soldadinho mandado. Critica clara não só ao comando militar como também à interferência americana em assuntos que não lhes convêm. Personagem viveu estupidamente, morreu estupidamente.

OH AMERICA, THANKS GOD YOU'RE HERE!

Scarface. Schutzstaffel.
Certamente um dos personagens mais interessantes. É o exemplo a quão doentio o espírito humano pode chegar. Faz referência a oficias da SS (note a vestimenta) e se trata de uma apologia à banalização da violência. Como torturador, ele via prazer no sofrimento alheio e a morte não se passava de uma experiência.

Agora, a Mana...


Daria um artigo inteiro só sobre sua análise.

Basicamente, ela é a personificação da história inteira. Difícil de visualizar, né?
Da mesma forma com que a sociedade decaiu, perdeu seus valores e inibição, para por fim, do fundo do poço, se reerguer, o mesmo ocorreu com ela.

De início, era uma garotinha pura.

(Aqui tem início a referência a diversos pecados capitais)
Mas a curiosidade levou a um destino cruel. Se ela não tivesse encostado no meteoro, nada teria começado. Posteriormente, a ambição e o desejo de poder (autodestrutivo) de seu pai e tio (que estavam mais preocupados com a pesquisa do que com ela), culminaram na negligência da gravidade de sua situação. Ninguém percebeu o quão perigoso era o tal vírus.

Enquanto ele lentamente tomava controle de suas ações e pensamentos,
os sentimentos confusos que a Mana possuía, somado ao medo, culminaram na luxúria. Shu, não a compreendendo, a rejeitou, e isso foi o estopim.

Emocionalmente abalada, ela literalmente pirou (sabe os soldados que voltam da guerra?) e após o Lost Christmas, permaneceu nesse estado de loucura até ser “resgatada” por seu príncipe encantado (Gai).



Ela também representa o dilema entre BEM vs. MAL e BELO vs. DOENTIO. Nada mostra isso melhor do que a cena em que - ao som de ópera - ela dança balé para destruir a humanidade.

QUER SIMBOLISMO MAIOR QUE ESSE? Simplesmente genial!


A MORTE DO PLOT.

~ SODA LIED. HARE DIED ~



Okay. Sem mais piadinhas aqui. Essa provavelmente foi uma das cenas mais tristes de 2011. Não se ri de tragédia.

Provavelmente o ponto culminante do HATE em torno de GC e um dos pontos mais polêmicos da série.

Em primeiro lugar, é inútil tentar dizer que a morte dela era desnecessária. Não existe isso. Os roteiristas provavelmente queriam uma reviravolta na história e na personalidade do Shu, e a única maneira de se obter isso, seria essa.

Com certeza bateu forte em toda a fanbase, e definitivamente foi uma má escolha de "pacing" deixar somente um episódio de "luto" para ela.

A Hare, basicamente, representava a inocência da infância. Com sua morte, morre também esse sentimento. Naquela ocasião, eles tiveram seu plano de fuga frustrado e com isso se exauriram as esperanças. Igualmente, a Hare também era uma das heroínas da série. (Notou que são 2 garotas?? Ela e a Inori) E da mesma forma que a Inori, ela faz o último sacrifício, que é dar sua vida, para a “causa” e para o bem dos outros.

Foi triste, foi triste pra caralh*. Nem vou mais falar sobre isso, antes que lágrimas comessem a cair no tecl---


E o que realmente é clichê?
Você deve ter notado (se leu até aqui – parabéns e obrigado, por sinal) que deixei alguns trechos de fora. Isso pelo simples fato deles serem mesmo clichês, então não há o que analisar.

Daryl = típico vilão que não sabe pelo que luta e fica “bonzinho” ao final.
Gai = O herói de quase todo shounen. Faz o preciso para salvar sua amada. Cavaleiro encantado.
Ayase, Tsugumi, Arisa, Haruka (MOTHER OF GOD) = MOE factor.



Para fechar com chave de ouro:
-Note o título de cada episódio. (vou deixar pra vocês procurarem essa) Referências bíblicas por toda parte!
-Nos 2 primeiros episódios temos escondida a resposta do conflito inteiro do anime:
"Protect it this time!" - Gai para Shoe, falando sobre o Void Genome, obviamente referenciando a Mana, que o – NOTAVELMENTE - Shu “falhou” em proteger.
"Take it this time" - Mana para Shu, sobre o Void.
"Even she chooses you" - Gai para Shu sobre a Inori dando o Void para Shoe ao invés dele, referenciando também a Mana.


Repercussão no /a/ e na Animu e otacô web:
Acabei assistindo GC “junto” com o /a/. Lurkers habituais do board devem estar familiarizados com a prática. A cada semana, quando um novo episódio era lançado, se abria um thread sobre ele.
Admito que foi 6x10²³ vezes mais divertido assistir acompanhando as discussões do que ver tudo sozinho depois de completado. Das imagens que estão presentes nesse artigo, poucas NÃO são de lá. Segue o link do episódio HEIL SHOE.


Deixando de lado a parcela da comunidade "trash" que posta por lá, muito das conclusões que apresentei aqui também são recorrentes de diálogos do board.
Posso dizer que a opinião é bem dividida entre o anime. Mas que se faça valer o provérbio “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”.

Na época, o mesmo se observava no MAL (MyAnimeList), a coisa mais comum que se via era gente dizendo coisas do tipo “Trash. I'm droping it” mas acabavam voltando na semana seguinte.



Interessante também que, dentre as vendas de BD da Production I.G, “Guilty Crown” foi a maior.

Não sou bom em despedidas... Portanto só concluirei com "vlw, flw". Um sincero 'muito obrigado' à você! Que leu tudo isso, e provavelmente deve estar pensando agora "por que perdi todo esse tempo?". Estou sempre disposto a discutir Animus, então qualquer comentário, crítica, zueira, entre em contato!




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8 comentários:

  1. Eita, tive que pular metade da postagem por causa do aviso de spoilers.

    Dropei a série no ep 14 (então foi pouco depois de começar o segundo arco, se diz que foi no ep13). Encarei ela com muita má vontade desde o início, e fui sendo empurrado até a metade não sei pq, mas quando alcançou esse ponto consegui me livrar dela, ufa.

    Mas enfim, a postagem me deu vontade de vê-la, dar uma segunda chance. Como não lembro de praticamente nada, terei que começar do zero e talvez já encarando com um outro olhar (mais paciente).

    Inegavelmente o anime chamou muita atenção na época dele, inclusive virou uma piada interna envolvendo mechas numa comunidade que frequento.

    E acho que tem um erro ali nas notas numéricas.

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    1. Opa...

      Erro do editor (eu?), ele "comeu" dois números ali... Vlw por avisar.

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    2. Yo!
      OP aki!
      Pois é, se tu ainda não terminou, não é bom ler a segunda parte do post... acabaria com qualquer chance de tu curtir o final kkkk
      Também assisti duas vezes, e admito que da primeira vez levei o anime mais na "zueira" e nem prestei atenção de vdd na história. Vendo denovo deu pra perceber uns detalhes interessantes e até referências à outras series! Eu recomendo! :D

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  2. Perfeito post! Invejo pessoas que possuem essa capacidade tão boa de desenvolvimento. Eu mesmo nas minhas resenhas sobre J Music não consigo ser tão preciso e solto como sua escrita foi. Parabéns, nunca perca isso. Por falar em J Music, Inori Yuzuhira (Egoist) é a minha vocaloid favorita. Curti demais quando anunciaram que ela faria tema para Psycho-Pass, denotava ali um prosseguimento muito positivo do trabalho.

    Ademais, me considero ainda um telespectador que precisa das coisas mastigadas, mas estou mudando isso em mim. Mas tão é verdade isso que precisei rever os 5 primeiros episódios 6 vezes para poder entender e dar prosseguimento. xD Lerdeza e preguiça é fogo. Gostei dessa parte classificatória do seu texto. Ademais, gostei das menções aos personagens principais. E eu confesso que não via a Inori, embora suspeitasse, como a verdadeira heroina da história. Erro de observação muito bem analisado por você. Mas agora é tudo mais claro.

    Parabéns de novo e espero pelo próximo texto! Conbtinue assim e persevere. A forma como balanceia os prós e contras é algo raro. Abraço!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Já faz muito tempo que vi este anime na época que lançou, nunca tive nada o que reclamar dessa obra em relação a animação e a soundtrack que foram muito boas (embora tenha sido mal usada durante as cenas de ação, pois não combinou) mas não tenho boas lembranças da narrativa e dos personagens que para mim foram falhos. O enredo de Guilty Crown é idêntico do jogo Parasite Eve: vírus que altera o DNA, duas mulheres que se fundem para formar um ser superior, protagonista que usa o poder do vírus para lutar contra as duas e etc.Acho que Guilty Crown tentou ser coisa demais para um anime de 22 episódios. É uma salada de gêneros: Ação, Mecha, Sci-fi, School (esses dois últimos gêneros não combinam de jeito nenhum), Apocalíptico, Romance, Drama, não tinha como fazer isso em menos de duas temporadas.

    Em relação aos personagens, não consegui gostar e me importar com nenhum, achei o Shu um cara sem personalidade e falho como protagonista, ele sempre teve a Inori como prioridade usando os seus colegas como peões. Outra coisa que me irritou também foi a tentativa falha de mistério com o flashback da Mana colocado no final que acabou me broxando de tão desinteressante que era, pois foi colocado na hora errada e olha que eu estava com expectativa de como tudo aquilo tinha começado. Sem falar dos personagens clichês que foram colocados na obra e esse papo de evolução humana que não me comprou. A volta sem sentido do Gai e o final com o Shu manco e virgem foi o fim da picada para mim. Só não vou citar mais coisas pois eu não me lembro tanto do anime por ter visto faz um tempo e se visse o anime de novo iria fazer uma review bem detalhada colocando minha opinião..

    Mas mesmo assim gostei do seu post mesmo eu tendo uma opinião contrária. As ideias de Guilty Crown foram até interessantes e seria bom se o anime trabalhasse bem as ideias desse post, pois que entre a ideia e a sua execução existe uma distância grande. Mas mesmo assim pode ser que eu reveja a série para fazer uma review. Para terminar deixo duas recomendações, o anime Kaiba TV, que lembra Guilty Crown só que com um enredo e um romance bem melhor e o mangá Holyland, cujo protagonista é um cara fraco sem objetivos e lar que tem uma evolução bem interessante.

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  5. O arco do Hitler Shu foi a melhor parte, queria que ele tivesse mantido essa personalidade e depois matado todo mundo que se voltou contra ele. Motivos pra isso não faltariam, mas ele é muito bunda mole pra ser um verdadeiro anti-herói.

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