6 de março de 2015

Resenha: Tari Tari



Ano: 2012
Diretor: Masakazu Hashimoto (talento em ascensão na P.A. Works, com participação em storyboard e direção de episódios)
Estúdio: P.A. Works
Episódios: 13
Gênero: Música / Drama / Slice-of-Life
De onde saiu: Animação original




Por xbobx

"Quem canta seus males espanta"
Já dizia o ditado.
Para os mais céticos, se trata de uma noção absurda. Para os crentes, tem a ver com religião. Para os ateus e adeptos da psicologia, se trata de algo mental.
De qualquer forma, cantar vai sumir com a fatura atrasada do seu cartão?
Não.
Por outro lado, somos inocente o bastante para crer que todo ser humano é movido por alguma música, canção ou melodia em algum momento (exceto os surdos. Daí é uma ironia de mau gosto). Todos apreciamos uma boa música, e pesquisas já comprovaram que elas melhoram o humor.
Essa é a ideia que "Tari Tari" busca passar. Como o música está presente em nossas vidas e que benefícios podemos tirar dela.


Antes de mais nada, é bom ressaltar dois pontos interessantes:
Primeiro, o "fanservice" é minimo. E quando digo minimo, é REALMENTE minimo. Temos, é claro, o "beach episode" e alguns biquínis, mas esse não é o foco.
Segundo, "Tari Tari" apresenta uma história de amor, um romance, mas não entre dois personagens, não entre um moça e um guri (nem entre duas garotas), mas sim entre as personagens e a música.
Parece melodrama barato de novela das 7, né? Acredite, não é!

Produção original da P.A. Works, "Tari Tari" busca fazer uma mistura de slice-of-life com uma narrativa de amor pela música, e me atrevo a dizer que são bem sucedidos.
O que acontece quando escrevemos um slice-of-life com pitadas de drama e comédia e adicionamos uma temática musical?
Nodame Cantabile.
Agora adicione "cute girls doing cute stuff", o "MOE", retire músicas, o rapaz, e adicione Azunyan:
K-ON!
Agora misture os dois, retire o excesso de MOE, adicione 2 garotos e um setup escolar (highschool)...
Disney's Highschool Musical™!...
Retire os diálogos sem nexo, a falta de coerência, as músicas e dancinhas nos momentos errados e adicione um drama decente, um roteiro comovente e reais referências à história da musica, seus compositores e estilos de canto:
Tari Tari.
Yeaa! Ok... para a review:


Wakana é uma garota com talento nato para música. Afinal, vem de uma família que sempre valorizou essa arte. Entretanto, em seu ultimo ano do ensino médio, pediu transferência da escola de música para a convencional.
Ela não possui muitos amigos, para não dizer nenhum, e está sempre com uma aura irritada/emburrada com a vida. Mas... por quê?
Na mesma sala de Wakana temos Konatsu Miyamoto. Hiperativa, chibi, tem paixão pela musica, mas alguns "erros no passado" fizeram com que ela perdesse a oportunidade de fazer parte do coral.
Com histórias e passados bem diferentes, as duas garotas não possuem NADA em comum, mas uma situação inusitada trará (ou não) uma nova oportunidade de trabalhar com seus problemas e fazer novas amizades para as duas.

Considerando a sinopse e uma visão superficial da história, "Tari Tari" não inovou em muita coisa, ou melhor, nada. E também não quebrou nenhum estereótipo.
A temática não é novidade, alunos do 3º ano se juntam em um clube e enfrentam o dia a dia de estudantes normais, sob a pressão de ter que decidir sobre seus futuros, carreiras, etc.
Todavia, contudo, entretanto, "Tari Tari" surpreende com a forma que abordou tais temas. Inicialmente, você é levado a acreditar que será só mais um rom-com SoL (romantic comedy slice-of-life), principalmente com uma sinopse nesse estilo, mas o anime se prova o oposto quando apresenta uma história sólida, bem construída e, convenhamos, bem realista com um final satisfatório e mais profundo que o esperado.

O valor desse anime está no desenvolvimento da estória e na mensagem que ela passa.
Pode a música resolver seus problemas diários? Não, óbvio que não.
Entretanto, algumas vezes ela pode sim ajudar, servindo de apoio emocional ou encorajamento.
Inegavelmente, algumas peças clássicas com violinos e pianos podem carregar uma boa carga emocional. De certa forma, elas trazem uma tranquilidade/serenidade tanto pra quem está tocando quanto pra quem está ouvindo.
Esse é um dos valores que "Tari Tari" resgata, e um dos quais eu tenho o mais profundo respeito. O anime não glorifica o já repetitivo J-POP e os karaokês que os tão ditos animes de "música" atualmente apresentam. Mas ao contrário, recupera a definição verdadeira de um "clube de coral" em um tom ao estilo de "Nodame Contabile" e "Corda D'oro".
O leitor assistiu "Beck"? Tari Tari consegue fazer o mesmo paralelo de dia a dia com música que "Beck", saindo da mesmice de, por exemplo, "K-ON!".
Não que "K-ON!" seja ruim, não me leve a mal, nem que "Tari Tari" seja elitista. O anime não tenta empurrar cultura clássica em você, muito menos a tem como pré-requisito, mas a tem como um dos temas principais.

Além de evocar uma boa musica ao estilo clássico, como dito no parágrafo acima, "Tari Tari" traz mais do que isso em sua história.
Alguns limites não podem sem ultrapassados não importa o quanto você tente, pessoas que já faleceram não podem voltar à vida, coisas que aconteceram no passado não podem ser modificadas e não há nenhum tipo de "magia" para provar o contrário.
Esse anime trata sobre seguir em frente e aceitar o presente. Aceitar que os problemas existem e estão lá, e que o sensato é enfrenta-los na medida do possível e não correr deles.
Como essa review já citou varias outras séries (algo tecnicamente incorreto) vamos logo citar mais algumas. Esse anime, assim como "ARIA", "Haibane Renmei" e "Non Non Biyori" pode ser classificado como Iyashikei, uma "healing series", no inglês healing "curar". O objetivo dessas séries é literalmente trazer uma boa experiência para a audiência, algo que se assista para aliviar a tensão no fim da tarde e etc.
O que a música tem a ver com isso?  Ela atua como um catalisador no processo, não a "música" por si só, mas sim as pessoas que ela conecta e as oportunidades que abre.
E isso não é representado apenas no simbolismo ou metaforicamente.
Essa ideia é explícita empiricamente no roteiro. Diferente de outras séries com o mesmo setup, em "Tari Tari" as personagens veem a música e o "cantar" como algo agradável, mas não só uma forma de passar o tempo, e sim também um modo de trabalhar seus problemas. Algo que de fato quebra o padrão desses anime no estilo "school club".


Como já deve ter ficado claro, personagens são a alma do negócio.
Talvez se os roteiristas não tivessem a mesma criatividade para personagens tão diferentes e os seiyuu escalados para atuar como os tais não fossem os mesmos, estaríamos aqui fazendo uma review de uma série medíocre.
Em um anime sobre música, é esperado de quem dubla esses personagens que se saiba cantar. Pois bem, a direção mistura voice actors experientes com novatos, o que cria um belo ambiente, onde além de escutar vozes conhecidas você acaba descobrindo novos talentos.
Menção especial para Ayahi Takagaki, formada em canto pela Universidade de Tokyo, faz a voz da Wakana e pessoalmente considero a melhor escolha possível para MC dessa série.
Interessante também que durante o anime há varias insert songs -como esperado de uma série sobre música- mas quem as canta são os próprios dubladores das personagens, dando uma sensação de muito mais "realismo" além de, é claro, se misturar perfeitamente com a progressão do episódio.
"Harmony of the sea breeze", "The melody of the Heart", "Radiant Melody"... diga-se de passagem, belas composições.
Ainda no tópico, P.A. Works deixa um cameo/easter egg para aqueles que assistiram "True Tears" (produção original de 2008) com um cover da opening "Reflectia" no primeiro episódio em formato de coral, em contraste com o estilo solo da original.


Em questão de arte e animação, resumidamente: P.A.Works. Progressive Animation Works.
Creio que a esse ponto já é possível perceber minha imparcialidade em relação ao estúdio...
De qualquer forma, mais uma vez com um orçamento não tão grande quanto KyoAni, SHAFT e derivados, conseguiram produzir cenários belíssimos e muito bem detalhados tanto em larga quanto pequena escala.
Personagens com perfeitas simetrias anatômicas -algo realmente difícil de encontrar em uma série com muitas garotas como MC- sem "curvas" exageradas, e aí entra o fator que mencionei ao começo da review: pouco fanservice.
É perceptível a atenção dada também ao "background art", o esperado de Kazuki Higashiji, mesmo diretor de arte de "Angel Beats", "Hanasaku", "GitS", "Piano no Mori". Uma sugestão interessante, é depois de completar o anime, assistir novamente, dessa vez prestando atenção na arquitetura do mesmo. Não só em grandes prédios ao fundo, mas também a pequenos detalhes como escadarias, trens, portas (sim, portas).
Mas por quê?
Pois a cidade onde "Tari Tari" é ambientada existe de verdade, e as locações são reais.
Se trata de Enoshima, distrito de Fujisawa. E não é uma simples "inspiração" como a P.A .Works fez anteriormente com "True Tears" (Toyama Prefecture) e "Hanasaku Iroha" (Kanazawa, Ishikawa Prefecture). Dessa vez eles realmente passaram para 2D grande locações da cidade, assim como marcos e pontos turísticos.
Entretanto, nem tudo é exatamente igual. Alguns dos cenários do anime foram criados e, por exemplo, a escola onde as personagens estudam é fictícia. Aí que se encaixa o comentário para prestar atenção na arquitetura.
Enquanto em algumas cenas os animadores seguiram um traçado fiel ao original, em outras puderam liberar sua criatividade ao máximo, com a simples obrigação de respeitar o estilo moderno mas com traços clássicos.
O resultado é surpreendente e digno de ser classificado como "Scenery Porn".



Concluindo, "Tari Tari" em termos de história inovadora ou roteiros surpreendentes, não é nada de mais.
A arte e o OST são belíssimos mas, convenhamos, eles por si só não fazem um anime.
No fim, "Tari Tari" em termos técnicos não é excepcional, ENTRETANTO, a mensagem que ele passa, as personagens, os diálogos, as referências e a conclusão são brilhantes.
Não vejo outra possibilidade da história como um conjunto completo de personagens, progressão, setup e clímax ter sido melhor escrita do que a forma que foi.
Personagens acima de tudo. Creio que esta foi uma das poucas vezes em que posso afirmar ter gostado de todos. Não há nenhum que seja irritante, repugnante, arrogante, nada. Após certo tempo você passa a gostar até dos antagonistas, acredite.
De começo a fim, você fica curioso e sofre/ri junto com esses jovens enquanto eles passam por situações comuns e inusitadas em seu dia a dia. Essa é de fato a verdadeira essência do slice-of-life, a máxima que qualquer escritor do gênero deveria tentar obter.
Portanto,
recomendo essa série pra qualquer um em busca de algo tranquilo -mas com pequenas pitadas de drama- que, ao concluir, deixa uma sensação boa e um tom relaxante no ar. Amantes da música, com certeza garantida, 100%, 10/10, vão gostar. E aqueles não muito chegados, ainda vão apreciar plenamente a história, talvez só não peguem algumas pequenas referências e piadinhas.

[Trivia] Interessante mencionar que a expressão "Tari Tari" serve tanto como uma gíria para dizer "ah, isso, aquilo ali, aquilo lá" mas também é um sinônimo de "variedade, conjunto de varias coisas" (seja de música, lugares, etc).
Combina, não?
[Trivia 2] Se você coleciona OST/DVD/BluREI/Figure e etc, consegui pela CD Japan um pack com a série em BluREI HD + o combo do Concert da Lantis com "Hanasaku" e "True Tears" por um preço de barganha. Dê uma olhada!


Nota numérica: 
Roteiro - 8
Artwork - 9
Som/OST/BGM - 10 
Personagens - 
Enjoyment - 100xc(luz)x(massa do sol)²³ 

Média: 9
Média subjetiva pessoal e extremamente imparcial: 10000000/10




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Um comentário:

  1. Uma excelente Review, a tempos venho tomando coragem para assistir essa história, mas acredito que suas palavras "imparciais" me incentivaram a tal.
    No mais se mostra muito interessante ver um desenvolvimento diferenciado aos protagonistas, pelo que suas palavras deram a entender acerca desse show.

    Obrigado pelo cativante texto

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