26 de março de 2016

Especial: Me recomenda um anime





Por Tadashi Katsuren (Gabriel Katsu)

Já comecei a notar isso faz um tempo; anos, pra ser mais preciso: Quando temos um conhecimento mais a fundo de alguma coisa, e as pessoas notam que você possui este saber, é mais do que aceitável que caso algo traga ela para dentro de seu mundo, esta  venha pedir conselhos para quem já conhece bem dele. Assim é comigo quando tratamos mais especificamente de animes e mangás. Tornou-se algo costumeiro conhecidos e amigos aparecerem diante de mim perguntando que animes ou mangás deveriam assistir ou ler; tanto, que só agora parei para pensar no tema deste texto. Há alguma fórmula para recomendações? Precisamos apenas dizer nossos animes preferidos e só? Animes bons são sinônimos de boas recomendações?


Uma de minhas animações preferidas é Legend of The Galactic Heroes (LOTGH), ou ”Ginga Eiyuu Densetsu”. Uma space opera que já vi ser recomendada como Star Wars dos Animes; não que a referência não seja óbvia: Temos um império galáctico enfrentando uma força democrática-republicana rebelde e uma estrela artificial que lança um gigantesco canhão laser. Mas, em minha opinião, essa obra guarda muito mais; ela marca na animação japonesa o uso de dois protagonistas, um de cada lado da história, cada um deles lutando por seus próprios ideais e com isso tendo de se enfrentar. Yang Wenli de um lado com sua idealização de democracia, defendendo um Estado republicano e democrático por natureza, e mesmo assim não tão honesto e altamente corruptível; Reinhard von Lohengramm do outro lado, galgando na hierarquia monárquica em busca de um império a ser construído de maneira justa, mas ainda assim absolutista e imperial. É uma animação antiga com muitas estratégias de guerra, muitas questões políticas e éticas levantadas e personagens extremamente carismáticos.


Meu primo de quinze anos, por outro lado, tem como seu anime preferido o nosso famoso ninja de roupas gritantes Naruto. Demograficamente falando, "Naruto" é voltado para um público bem mais jovem e mesmo levantando seriedade em alguns combates, suas resoluções são bem mais simples e menos complexadas que as de obras como LOGHT. Nem por isso, e fazendo essa fula comparação, a obra shounen precisa ser - necessariamente - ruim aos olhos de meu primo. Qual tipo de recomendação que eu poderia dar para esta pessoa?

Vamos avançar o texto usando de outra comparação: Suponha que agora eu esteja de volta aos meus quatorze, treze anos de idade, com a puberdade aflorando à mil e todas as outras loucuras que acontecem em nossa adolescência. E consideremos, então, que eu seja um fã de animes: Minhas obras favoritas são títulos como Highschool of the Deadque carrega uma premissa de animes de gênero ação/aventura num apocalipse zumbi, mas que igualmente - ou até em graus maiores - dedica boa parte de tela para o fanservice envolvendo as garotas da trama; e Monster Musume no Iru Nichijou, com o gênero harém despontado e cenas de ecchi saltando em inúmeros momentos de um mesmo episódio enquanto vemos o personagem tomar conta de várias garotas-monstro. E então, descubro que uma colega de minha própria sala também é viciada em animes e mangás, visto que a encontrei os lendo em sala de aula e puxei assunto com ela.



Esta minha colega de sala é apaixonada por mangás, também. Mas a pegada dela é um tanto diferente; ela gosta de animes colegiais de romance, por grande parte das vezes um shoujo. Curte o casal protagonizado pelo recluso e carregado de problemas do passado Mabuchi (Tanaka) e a garota que quer ser vista de outra maneira Yoshioka de Ao Haru Ride, bem como ela é apaixonada pelo casal-comédia de Lovely Complex, a alta Risa e o tampinha Otani. Dentro de uma conversa saudável entre estes dois tipos de apreciadores dos quadrinhos e animações japonesas, qual seria uma viável recomendação que poderia atender tanto a um quanto a outro? Será que simplesmente apontar os próprios favoritos é o suficiente?


Recomendar é algo simples. É como dar um conselho.

Quando um amigo meu está mal, canso de ver outros chegarem e aconselharem “Deixa isso pra lá, vai ficar tudo bem”, ou coisa do tipo. Quando eu chego para ver como ele está, ao invés de simplesmente ouvir e retribuir com um tapinha nas costas e uma mensagem de acalento, pergunto-o como aconteceu, se há como reverter ou resolver o problema e vejo dentro de minhas opções e disponibilidade o que posso fazer para ajudá-lo. A efetividade do conselho e o quanto isso pode mudar a concepção da outra pessoa é algo que eleva o patamar do questionamento para outro nível, e da mesma forma serve uma recomendação simples.


Uma das formas mais interessantes que eu vejo de recomendar alguém está no site do MyAnimeList. A aba de recomendações deles é sensacional porque correlaciona obras entre si, para que os utilizadores possam conhecer obras que, de alguma forma, tenham semelhanças entre si. “Se você gostou disso, talvez possa gostar de…” Esta recomendação é muito mais viável que muitos amigos que empurram seus gostos pessoais para cima de você. Enfim, pensando sobre o tema, eu cheguei a concluir alguns pontos que pelo menos Eu levanto, toda vez que alguém me pede uma recomendação. Isso é longe de ser uma regra universal, uma verdade absoluta ou um manual geral do tema, é apenas o que minha pessoa considera vago tomar em nota quando vai apontar um título para alguém. Veja:


Considere o que a pessoa já assistiu: A primeira coisa que eu faço quando alguém me pede uma recomendação é perguntar de volta para ela: “Tá, mas o que você já assistiu?” ou coisa do tipo. Quando se tem um conhecimento um pouco maior sobre animes, você acaba tendo consigo uma boa gama de gêneros e demografias para serem aconselhados, mesmo que você prefira um ou outro dentro destes. Todavia, muitas vezes quem nos pede por uma dica não é tão aprofundado no tema assim; muitas vezes ela só viu um gênero de uma demografia - da grande maioria das vezes, acontece de ser os Shounen de combate. Para essas pessoas não é legal apontar algo completamente fora de sua zona de conforto para ser visto, então, ouvindo sobre os animes que ela já assistiu, pondere. De mesma forma, a conversa pode se tornar muito mais interessante se você necessita encontrar uma recomendação para alguém que já viu muita coisa como você, mas com os gostos pessoais dela: É quase um divertido desafio recomendar um título efetivamente em muitos destes casos, ou pode até ser mais fácil a pessoa ser aberta o suficiente para experimentar algo novo; varia entre os extremos nas experiências que tive.


Considere o que a pessoa quer assistir: Outro questionamento que faço de volta é: “E o que você está procurando ver?”. Porque, assim, às vezes a pessoa acabou de devorar todos os episódios de “Naruto” e “One Piece” até eles chegarem nos episódios da semana e querem algo para assistir agora que vagaram desses, mas eles não querem algo tão longo, dado o tempo gasto. Ou então, acontece da pessoa ver um anime e gostar muito de só um ponto dele - que MUITAS vezes não é o ponto principal da série - e gostaria de ver mais coisas naquele estilo. E até mesmo acontece o inverso! “Eu vi o anime X, mas eu odiei! Queria assistir algo diferente, mas não sei o quê” também é uma linha que ouvimos. Para tanto, saiba o que a pessoa procura, muitas vezes ela te dá dicas do que pode gostar apontando aspectos, temas abordados dentro dos animes ou mesmo apontando gêneros e demografias, que podem guiar a sua recomendação. Outras preferências que também são interessantes de serem analisadas são aquelas por Traço/Character Design, Estúdio, Direção, Seiyuu, Animação e até efeitos de enredo (plot twists, pacing de desenvolvimento de personagem). 


Considere como recomendar uma obra: Não dá uma raiva quando você fala com um amigo sobre um anime, aconselha-o a assistir, peça para que ele dê uma chance para o tema (muitas vezes para você ter com quem comentar sobre a obra) e ele não tem um pingo de interesse? Isso acontece porque, mesmo você recomendando, o seu convencimento não foi o suficiente para ganhar a atenção da pessoa para ir atrás. Talvez a melhor maneira de convencer alguém a ver algo que queira, seja correlacionando-a com alguma obra que ele já viu e que gostou muito. “Ah! Se você gostou disso no anime X você PRECISA ver o anime Y, porque tem uma trama BEM parecida mas melhor nesse ponto Z!”. Ou mesmo apelando para leves spoilers sobre coisas que acontecem dentro do anime, apenas a ponto de deixá-lo curioso para ver como chega-se até lá. Tudo é válido para cativar o ouvinte.


Considere moderadaramente o seu gosto pessoal: Em outras palavras, não use daquele meme “My taste = God Tier; Your Taste = Crap Tier”. É muito cruel e improdutivo você chegar numa pessoa condenando o que ela assistiu até então para logo depois começar a empurrar o seu top 5 na cara dela. E isso é algo que acontece com muita frequência dentro do nosso hobby. “Nossa, você gosta dessa merda!? Larga mão disso, vai assistir isso aqui, olha!”. Vou admitir: Antigamente eu era assim, a imaturidade da adolescência me fazia rir do que os outros assistiam pra depois jogar na cara deles o que eu considerava bom. Me arrependo disso, mas, por outro lado, é dessa fora que aprendi como me portar realmente, visto que isso gerava mais discussão e improdutividade do que propriamente uma recomendação válida. Hoje em dia brinco com amigos com quem tenho mais intimidade, falo mal de seus animes preferidos, mas aí é graça. Todos sabem que o ponto principal é rir e debochar sem maiores danos.

O assunto muda completamente de escopo quando alguém pede a sua ajuda para um entretenimento futuro. Quando digo que deve ser considerado o seu gosto pessoal com moderação, isso significa que aplique sua preferência nas obras o quanto a gostar delas, desgostar delas ou chegar ao ponto de não recomendá-las porque considera que são ruins. Não necessariamente precisa ser algo que goste, mas a sua recomendação pode sim ser algo que você considere decente, ou mesmo mediano - mas que pode gerar o interesse do amigo por algum outro anime melhor no futuro. Quando me pedem a minha opinião sobre determinado anime que não gosto, sou sincero: “Olha, eu não gosto desse anime; não é que odeie ele, só não me agrada por causa de X, Y e Z. Mas considerando que você gosta desse outro anime A, você pode gostar dele sim, vai fundo.”. Pense no seu gosto pessoal com moderação; é mais fácil você construir um caminho que faça a pessoa gostar do que você gosta do que tentar empurrar tudo na força logo de cara.


Dentro deste texto, deixei de lado tocar no assunto Qualidade x Gosto, porque penso que esse é um ponto delicado e bem mais complexo para tocar apenas como ponta para outro. Quem sabe num futuro, eu possa fazer outro texto deste estilo para voltar a comentar sobre. Antes de minhas considerações finais, eu gostaria apenas de fazer uma menção importantíssima para alguns artigos de nosso amigo redator e podcaster do blog,  Evilásio, que foram de muita ajuda e em certo ponto essenciais para a construção deste texto, sendo eles algumas matérias da coluna “A Resposta é 42”, a citar Como se escolhe uma série de anime para assistir? e também Respeitar não dói, escritos ainda em seu antigo blog Anime Portifolio.


Por fim, vale uma reflexãozinha: Tadashi, você fez essa postagem inteira apenas pra falar de dicas de como recomendar um anime… não é exagerado, ou fútil demais? Bom, realmente, talvez não fosse necessário tanta coisa apenas para aconselhar um anime para alguma pessoa. Mas existe algo além disso: Dar uma boa recomendação para uma pessoa aumenta em muito as possibilidades dela em querer ver mais obras. Não sei vocês, mas me agrada bastante ter com quem conversar sobre animes e mangás, especialmente se são sobre obras que agradam aos participantes do papo. Considere estas dicas, deste ponto, como um incentivador para a cultura pop japonesa crescer um pouco mais perto de você.

Em maior escala, isso é até um incentivo para a indústria da animação e dos quadrinhos japoneses, se for bem parar para pensar. No meu caso, eu me contento em um agradecimento, algumas semanas depois, de meus amigos. “Valeu, cara, o anime que você me indicou é bom pra caraca!


 Um grande abraço, e até a próxima!












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Um comentário:

  1. Já tentei recomendar vários animes (entre outros) a alguns colegas da universidade que também compartilham desse hobby comigo, mas realmente é difícil agradar a todos os gostos. Depois de ler esse post, vou começar a pensar melhor antes de dar algum conselho, pois pode ser que sem perceber eu estou somente impondo a minha opinião sobre o que assistir.

    Como um adendo, Legend of The Galactic Heroes (LOTGH) ou "Ginga Eiyuu Densetsu”, está no meu top 5 junto com Fullmetal Alchemist Brotherhood; gostei das indicações de animes implícitas no texto.

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